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Supermax: Crítica sem spoilers dos 11 primeiros episódios

Um projeto inovador dentro das regras do horror tradicional — pro bem, pro mal, ainda longe do ideal.

20 set 2016 - 19h32
(atualizado às 19h56)
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José Alvarenga Jr. alardeia o caráter inovador de Supermax desde (pelo menos) o lançamento do reality de horror no RioContentMarket 2016, em março. De fato, o Brasil carece de obras do gênero — não só na televisão, como no cinema. E eis que a atração ganhou um formato de distribuição também vanguardista no país: via streaming. Assinantes do Globo Play já puderam conferir os 11 primeiros episódios, restando apenas o 12º e último capítulo para exibição exclusiva na televisão, em dezembro. E esse talvez seja o grande acerto da emissora para a série de terror.

Foto: AdoroCinema / AdoroCinema

Erom Cordeiro é destaque em Supermax.

Supermax é uma produção especialmente problemática em seu início. Os 12 participantes do reality show ficcional, baseado numa cadeia de segurança máxima isolada na Floresta Amazônica, são personagens "chapados". Se, por um lado, eles combinam com as figuras pouco interessantes de um Big Brother Brasil (o programa é grande inspiração e, de certa forma, paródia), por outro, eles não ajudam narrativamente. Eles brigam sem motivo, se (re)aproximam abruptamente e assim seguem, numa oscilação comportamental conveniente e que denota pouca sutileza na construção de suas personalidades.

Não à toa, esses personagens representam tipos bem definidos: um capitão da Polícia Militar, um jogador de futebol, uma enfermeira, um médico, uma ex-garota de programa, um ex-padre etc, e todos agindo, em grande parte do tempo, como meros estereótipos de suas categorias. Tal unidimensionalidade se reflete negativamente em outros aspectos, gerando conflitos frágeis, diálogos pobres e atuações caricatas. Não é raro um personagem meio esquecido se meter numa confusão e soltar uma frase de efeito, como que dizendo "Ainda tô aqui!". Da mesma forma, os crimes cometidos por eles (critério fundamental para entrada na Supermax) são frequentemente revelados sem porquê — num artifício primário de fornecimento de informações ao espectador.

Mariana Ximenes em bela (e simbólica cena) de Supermax.

É uma tendência inclusive na televisão estadunidense que as séries de TV aberta sejam menos sofisticadas — e, de certo modo, subestimem seu espectador. Por outro lado, a receita facilita a chegada de tabus a um público maior. Nesse sentido, cada personagem de Supermax representa um tema controverso. Ainda que pouco explorados, fala-se de eutanásia, corrupção política, abuso policial, violência doméstica, identidade de gênero (pena que uma atriz cisgênera interprete uma transsexual), torturas na ditadura, pedofilia na igreja e outros. A questão sobre matar alguém levantada pelo padre Nando (Nicolas Trevijano) é particularmente bacana, e reflete um ponto de virada positivo a partir da metade da temporada.

O apocalipse e a sobrevivência em grupo

Na década de 60, George A. Homero reinventou os filmes de zumbis com A Noite dos Mortos-Vivos. No clássico de 1968, em vez de efeitos especiais apelando ao gore para impressionar o público, o mestre do horror investiu no terror social, mostrando como uma família poderia se autodestruir em duas frentes: na transformação dos membros em zumbis, provocando a matança de uns parentes aos outros; e, principalmente, no desentendimento entre os entes e colegas saudáveis. Em vez de ter um debate racional, entrar num consenso e partir em busca de uma saída para o grande mal que os assola, as pessoas se digladiam e, assim, contribuem para o extermínio de si mesmas. Nesse cenário, o verdadeiro apocalipse é a falta de comunicação e empatia na sociedade. Monstros como metáfora de falha na humanidade como um todo.

Quando Supermax passa a investir em premissa semelhante, a série cresce.

Ou a união ou a destruição.

Assim como George A. Romero pôde dispensar o caráter grotesco dos filmes de horror de seu tempo, cessam as visões sobrenaturais, os gritos de crianças (explorados à exaustão), e a trilha sonora fica menos repetitiva. A atmosfera de suspense se instala quando o grupo percebe que foi abandonado. Sérgio (Erom Cordeiro) ganha razão para agir como líder, Bruna (Mariana Ximenes), para sua revolta, o relacionamento de Arthur (Rui Ricardo Diaz) e Sabrina (Cléo Pires) se torna mais crível e até a estupidez de Dante (Ravel Andrade) assume boa função narrativa. O melodrama barato do início da série vira dramaticidade de fato. E é aqui que a opção da Globo por disponibilizar quase todos os episódios de uma só vez se mostra um acerto.

Para muitos, a Netflix tem o melhor formato de exibição pois permite que o espectador siga assistindo a diversos episódios de uma só vez até chegar àquele momento em que a série irá fisgá-lo. Isso demora a acontecer em Supermax. Seu melhor capítulo, o décimo! O mais deslocado (temporal e espacialmente), porém bem filmado (em que se atenua a linguagem televisiva entranhada na série), eficaz ao finalmente revelar o porquê das bizarrices que cercam a Supermax (como prevê a "lei" de desigualdade de informações no suspense, segundo Alfred Hitchcock) e aquele que entrega ao público um bom inimigo contra o qual torcer.

Físico ou metafísico? Só no final descobrimos se o mal da Supermax é real ou sobrenatural — ou ambos.

Assim, Supermax se revela um bom passo da Rede Globo em sua proposta de inovação da TV brasileira. Distribuída de forma diferenciada, criada e produzida segundo o padrão de Hollywood, a série se aventura num gênero pouco explorado e deverá mesmo alcançar um público mais jovem. Em termos criativos, o resultado ainda está longe do ideal, mas é suficiente para garantir o interesse dos assinantes do Globo Play pelo que virá no final, em dezembro. Desde já, curioso e torcendo por uma boa conclusão da história.

Nota: 3/5

AdoroCinema
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