Cada filme tem sua razão própria de ser e a razão de As Confissões de Schmidt certamente é mostrar Jack Nicholson dando uma superaula na arte de atuar
O roteiro de Alexander Payne e Jim Taylor, uma adaptação do romance About Schmidt, de Louis Begley, mostra um homem numa encruzilhada no momento em que passa de uma vida de trabalho produtivo para sua aposentadoria potencialmente vazia e árida.
Warren Schmidt (Nicholson) passou toda sua vida profissional trabalhando como atuário para uma grande seguradora em Omaha e agora, aos 66 anos, tem que se aposentar.
Ele não tem planos para sua aposentadoria, exceto andar por aí num enorme trailer que comprou a pedido de sua mulher.
Embora não esteja exatamente amargurado com a vida, Schmidt também não está muito feliz; tudo que sua mulher Helen (June Squibb) fala e faz o irrita, e ele desaprova o homem com quem sua única filha, Jeannie (Hope Davis), está prestes a se casar.
A parte inicial do filme traz perspectivas do modo de vida tradicional em Omaha (cidade natal de Payne e local onde se passam todos os seus filmes), e o desencanto de Schmidt se expressa de maneiras discretas que indicam sua necessidade de escapar de tudo aquilo.
Uma delas é quando ele deixa a festa de sua própria aposentadoria e vai beber sozinho num bar; outra, o fato de começar a ajudar, em segredo, um órfão africano com quem começa a se corresponder. E ainda quando entra numa lanchonete apenas para prolongar um pouco o tempo que passa longe de Helen.
Então Helen morre de repente, enquanto está fazendo a faxina. Ainda atônito depois do enterro, Schmidt insiste com Jeannie, que veio de Denver acompanhada de seu noivo, Randall (Dermot Mulroney), para que fique um pouco mais e pense na possibilidade de adiar o casamento. Mas Jeannie resiste a seus argumentos e o deixa com vontade de "curtir o tempo que ainda resta".
A primeira coisa que ele faz é deixar às traças sua casa, antes imaculada. E, quando encontra cartas que revelam um caso que Helen teria tido anos atrás com seu melhor amigo, ele tira todas as coisas dela da casa e tenta atrapalhar seriamente os planos de casamento de sua filha.
Schmidt sempre achou que Randall, que tem um emprego simples de vendedor de camas, usa rabo-de-cavalo e um bigode longo em estilo Dr Fu Manchu, não é bom o suficiente para sua filha.
Ele descobre o porquê quando chega a Denver e conhece a família do rapaz, uma turma cujas palhaçadas imprimem uma virada cômica ao filme.
Uma atriz que está à altura de Jack Nicholson é Kathy Bates, sensacional e divertidíssima no papel da mãe de Randall, hippie velha e "mãe-terra", duas vezes divorciada e cheia de opiniões sobre qualquer assunto.
A cena espantosa de nu frontal dela, quando ela decide juntar-se a Schmidt na banheira de hidromassagem, na tentativa de conseguir um terceiro marido, é algo que platéia alguma teria esperado ver e é simplesmente impagável.
Assim como o filme começa com o evento cerimonial do jantar de comemoração da aposentadoria de Schmidt, ele termina com o casamento de Jeannie e a recepção que o segue, com um discurso de Schmidt.
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