Círculo de Fogo leva a nostalgia da TV dos anos 1980 ao cinema 3d

O diretor Guillermo del Toro realizou o sonho de todo moleque que, nos anos 1980, passou tardes em frente à TV ligada na antiga Manchete assistindo a histórias de heróis japoneses como Jaspion, Changeman, Flashman –e, antes deles, Ultraman- e tantas outras séries em que personagens mascarados enfrentavam monstros de outros planetas. Em Círculo de Fogo, todos os duelos entre invasores gigantes e robôs que protegem a Terra ganham uma roupagem “realista” e contemporânea, com superprodução e efeitos especiais bem impressionantes.

É pensando nessas “grandes crianças” que o filme estreia agora no Brasil. Ao receber os óculos 3d na entrada do cinema, é importante invocar o estado mental e o mesmo senso crítico um tanto infantil de quem assistia aos heróis japoneses na TV e deixar de lado qualquer cobrança por uma história realmente adulta. Apesar de todo o avanço visual e tecnológico, o roteiro envolvido na fantasia levada às telas aparentemente não amadureceu muito ao longo das últimas décadas.

A história é simples: monstros alienígenas invasores chegam à Terra (através de um portal aberto no fundo do oceano) e aterrorizam cidades. Para combater esses monstros, os humanos criam robôs gigantes controlados por dois pilotos, que encaram a pancadaria em uma espécie de MMA intergaláctico. Essas lutas colossais são o grande atrativo do filme.

Del Toro aproveita para fazer referências a dezenas de outros filmes de catástrofe e invasão alienígena. Além dos óbvios heróis japoneses, o filme lembra Independence Day, Godzilla, Starship Troopers e até o recente Os Vingadores em sua ideia de “portal” entre dois mundos.

O problema é que a história se propõe excessivamente séria, em um cenário de filme apocalíptico distante que dificilmente envolve a audiência. Os personagens centrais vivem dramas pessoais cheios de superficialidade, que são desnecessários para quem quer mesmo é ver a os monstros e os robôs trocando socos, chutes, tiros, bombas, ácido e outras armas. Em muitos momentos o filme se afasta dessa proposta básica e tenta criar discussões políticas, científicas e psicológicas rasas demais, deixando a audiência com saudade da pancadaria simples e pura. Sem muito espaço para o bom humor e a ironia nesse mergulho nesse formato quase infantil, o filme tenta ser sério, profundo, e soa apenas bobo e sem sentido.

Para quem conseguir desligar por algumas horas o senso crítico e de fato mergulhar na fantasia, entretanto, Círculo de Fogo pode ser uma divertida sessão de nostalgia.