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'O Último Tango em Paris' e outras 6 polêmicas cenas de sexo no cinema

7 dez 2016 - 11h05
(atualizado às 11h33)
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Marlon Brando e Maria Schneider - em O Último Tango em Paris, a cena em que Marlon Brando e Maria Schneider joga a jovem de 19 anos no chão e usa manteiga como lubrificante foi chamada de "brutal e misógena". Schneider afirmou em entrevista que se sentiu "violentada" por Brando e o diretor Bernardo Bertolucci
Marlon Brando e Maria Schneider - em O Último Tango em Paris, a cena em que Marlon Brando e Maria Schneider joga a jovem de 19 anos no chão e usa manteiga como lubrificante foi chamada de "brutal e misógena". Schneider afirmou em entrevista que se sentiu "violentada" por Brando e o diretor Bernardo Bertolucci
Foto: Divulgação

"Eu não queria que Maria interpretasse a raiva e a humilhação. Queria que ela as sentisse". Com estas palavras, o diretor italiano Bernardo Bertolucci justificou por que não contou os detalhes da cena de estupro de O Último Tango em Paris para a atriz Maria Schneider, então com 19 anos. O filme, de 1972, explorava a relação entre o personagem cinquentão de Marlon Brando e uma jovem 20 anos mais nova, vivida por Schneider, então uma desconhecida atriz francesa.

O roteiro incluía uma cena violenta simulando uma penetração anal, na qual Brando usou manteiga como lubrificante.

O uso da manteiga, segundo o diretor, foi "uma ideia que tive com Brando naquela manhã, antes de rodar a cena". E os dois resolveram não contar nada à atriz.

"Não contei (a Schneider) o que ia acontecer porque queria que a sua reação fosse a de uma garota, não a de uma atriz", disse o italiano em uma entrevista de 2013, parcialmente divulgada novamente na internet nos últimos dias e que vem provocando uma enxurrada de críticas.

Em uma entrevista em 2007, a própria Schneider - que morreu de câncer em 2011, aos 58 anos e teve a vida marcada por internações em hospitais psiquiátricos, problemas com drogas e pelo menos uma tentativa de suicídio - disse que tinha se sentido "humilhada" e "um pouco violada" na cena com o uso não consentido da manteiga.

"Eu devia ter chamado o meu agente ou o meu advogado até o set, porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro. Mas eu não sabia disso", disse a atriz na época.

Na entrevista, Bertolucci admite: "de alguma forma agi mal com Maria porque não disse a ela o que ia acontecer". Ele acrescenta que se sente "muito culpado" com a cena, embora não se arrependa de tê-la filmado.

A polêmica envolvendo o filme, que rendeu um Oscar para Brando e outro para Bertolucci, tomou conta da internet no último fim de semana.

Tudo depois que uma ONG espanhola divulgou um vídeo de dois minutos e meio com um trecho da antiga entrevista do diretor italiano, como parte de uma campanha de combate à violência contra a mulher.

Várias atrizes e astros de Hollywood usaram as redes sociais para condenar duramente o diretor.

A polêmica ganhou mais força depois que Bertolucci, de 76 anos, divulgou uma declaração na última segunda-feira afirmando que o caso não passa de um "ridículo mal entendido".

"As pessoas acham que Maria não sabia da violência que ia sofrer (na cena). Isso é falso!", disse o diretor, citado pela agência de notícias americana AP.

Ele acrescentou que o único detalhe que a atriz desconhecia era o uso da manteiga.

O fato é que o filme, que provocou escândalo quando estreou e foi proibido em vários países, agora está no centro das críticas pelo suposto caso de abuso que representaria.

Não é a primeira vez que uma cena violenta de sexo no cinema causa controvérsia. Relembre outros momentos que mexeram com o público e a crítica.

1. Laranja Mecânica (1971)

"Laranja Mecânica" foi retirado do circuito na Inglaterra, nos anos 1970, a pedido do próprio diretor Stanley Kubrick, que recebeu ameaças de morte.
"Laranja Mecânica" foi retirado do circuito na Inglaterra, nos anos 1970, a pedido do próprio diretor Stanley Kubrick, que recebeu ameaças de morte.
Foto: Warner

No premiado filme de Stanley Kubrick, repleto de cenas violentas, o protagonista e três dos seus seguidores invadem uma casa onde atacam um casal e abusam sexualmente da mulher.

Esta cena e outras com conteúdo sexual explícito e violento fizeram com que Laranja Mecânica, de 1971, fosse classificado como "só para adultos" nos Estados Unidos e tirado de circuito na Inglaterra a pedido do próprio Kubrick, que recebera ameaças de morte.

Nos anos seguintes ao lançamento, o filme provocou protestos e crimes que supostamente imitavam a trama de ficção.

A atriz que protagonizou a cena de estupro, Adrienne Corri, também reclamou das várias tomadas que Kubrick fez, segundo o site especializado em cinema IMDB.

Em todas as repetições da cena, Corri, que morreu aos 84 anos, em março deste ano, teve que permanecer quase nua e com as roupas rasgadas.

Apesar da polêmica, Laranja Mecânica foi indicado em quatro categorias do Oscar, inclusive a de melhor filme.

2. Veludo Azul (1986)

O filme do diretor americano David Lynch foi descrito como uma "mistura divertida e pertubadora do real, do surrealista e do fantástico" pelo crítico de cinema Philip French, do jornal britânico The Guardian.

"Veludo Azul" foi considerado um dos melhores filmes de mistério de todos os tempos pelo American Film Institute, dos EUA.
"Veludo Azul" foi considerado um dos melhores filmes de mistério de todos os tempos pelo American Film Institute, dos EUA.
Foto: MGM

No filme, um jovem chamado Jeffrey acha uma orelha humana num jardim. A decisão de investigar a estranha descoberta o leva a participar da relação sadomasoquista e violenta entre o psicopata Frank Booth e a cantora Dorothy.

Frank, interpretado por Dennis Hopper, usa uma máscara para inalar um gás que potencializa sua experiência sexual com Dorothy, vivida por Isabella Rossellini.

A cena de sexo causou polêmica entre os críticos.

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Roger Ebert, do jornal Chicago Sun Times, afirmou na época que a atriz italiana era "humilhada e denegrida diante da câmera".

Em uma entrevista em 2002, Isabella Rossellini disse que Veludo Azul enfrentara dificuldades de distribuição por ser um filme para adultos e que recebera "muitas críticas ruins" após a estreia.

"Disseram que eu estava disposta a fazer um filme pornô e tirar a roupa para conseguir algum reconhecimento próximo ao da minha mãe", disse a atriz, que é filha da estrela Ingrid Bergman.

3. Kids (1995)

Interpretada por atores menores de idade, a primeira cena de Kids mostra um adolescente convencendo uma menina de 12 anos a ter relações sexuais pela primeira vez.

O filme "Kids" gerou debate por causa das cenas de sexo entre menores de idade.
O filme "Kids" gerou debate por causa das cenas de sexo entre menores de idade.
Foto: Vidmark

"Todos os garotos estavam interpretando, porque nem eram sexualmente ativos. Eles tinham 15 ou 16 anos", disse à revista Rolling Stone o ator Leo Fitzpatrick, que interpretou o jovem Telly.

"Eu só tinha feito sexo uma vez antes", contou o ator.

Por causa de cenas como essas, a crítica se dividiu em descrever o filme como retrato de uma geração precoce nas suas práticas sexuais e de consumo de drogas, e como "pornografia infantil" pura e simples, como classificou Rita Kempley, crítica do jornal The Washington Post.

Kids recebeu a classificação de impróprio para menores de 17 anos (NC-17) da Associação Cinematográfica Americana (MPAA, na sigla em inglês).

O director, Larry Clark, apelou mas a MPAA manteve a classificação etária e determinou que o filme não fosse editado para que seu impacto fosse preservado, de acordo com o portal IMDB.

4. De olhos bem fechados (1999)

A sequência mais icônica do filme, segundo os críticos, mostra Tom Cruise (no papel de William Harford) observando uma orgia entre pessoas mascaradas enquanto percorre os salões de uma mansão.

Apesar do seu grande conteúdo erótico, a Warner modificou digitalmente a cena da orgia para manter a classificação (R) que permitia aos menores de 17 anos assistirem ao filme na companhia de um adulto.

A decisão não foi bem recebida pelos fãs do diretor Stanley Kubrick, que morreu pouco depois de acabar de rodar o filme, em março de 1999.

A crítica de cinema do jornal The New York Times, Janet Maslin, classificou as alterações feitas pela Warner como "uma piada".

"O significado e o efeito dos atos assistidos continuam sendo os mesmos", escreveu.

A versão sem censura do filme, estrelado por Tom Cruise e Nicole Kidman (na época marido e mulher), foi lançada em DVD nos EUA, em 2007.

Tom Cruise e Nicole Kidman eram marido e mulher quando estrelaram "De Olhos Bem Fechados", famoso pela cena de orgia.
Tom Cruise e Nicole Kidman eram marido e mulher quando estrelaram "De Olhos Bem Fechados", famoso pela cena de orgia.
Foto: Warner

Os atores sempre destacaram a intensidade da filmagem, que durou 400 dias, com grande voltagem sexual e elementos de profundo impacto psicológico.

As coisas com Kubrick eram "voláteis e intensas", disse Cruise, "por vezes devastadoras".

"Fico feliz porque Nic (Nicole Kidman) e eu não fizemos este filme no primeiro ou segundo ano do nosso casamento", disse o ator, em uma entrevista de 1999.

5. Irreversível (2002)

Cena que antecede o estupro de Monica Belucci em "Irreversível"
Cena que antecede o estupro de Monica Belucci em "Irreversível"
Foto: Alliance Atlantis

A cena de estupro neste filme do diretor argentino Gaspar Noé é uma sequência sem cortes que dura 10 minutos.

A atriz italiana Monica Bellucci, que interpreta Alex, sai de uma discoteca e, a caminho de casa, é atacada e violentada por um homem em uma sombria passagem subterrânea para pedestres.

"Eu não sabia como ia atuar nessa cena até a hora de fazê-la. Foi forte porque a filmagem foi feita de uma maneira muito realista", contou Bellucci em uma entrevista em 2002.

O crítico David Ansen, da revista Newsweek, relatou que várias mulheres saíram da sala de projeção quando o filme foi exibido no Festival de Cannes, na França.

E o mesmo aconteceu em muitas outras salas, onde o filme enfrentou todo tipo de rejeição.

Bellucci admitiu que Irreversível era altamente controverso e que "alguns o amaram e outros odiaram".

"Este filme é difícil, eu sei, mas é importante", argumentou a atriz.

6. Anticristo (2009)

O filme de Lars von Trier começa com uma sequência de sexo explícito em câmera lenta que termina com duas cenas de mutilação genital.

Charlotte Gainsbourg ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por seu papel no polêmico "Anticristo", de 2009.
Charlotte Gainsbourg ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por seu papel no polêmico "Anticristo", de 2009.
Foto: Zentropa

E assim continua o filme de terror, repleto de cenas carregadas de violência sexual e sadomasoquismo.

"Só consegui ver os incrivelmente arrepiantes últimos 20 minutos do filme por entre os dedos da minha mão", escreveu o crítico Peter Bradshaw, do jornal britânico The Guardian.

Von Trier contou que rodar o filme o ajudou a superar uma depressão paralisante, mas o resultado causou profundo desconforto em muitos espectadores.

Vários críticos afirmam que as cenas de violência sexual explícita não se justificam na trama.

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O diretor dinamarquês menosprezou as críticas e disse que "se sentia bem" quando lhe perguntaram sobre a reação negativa a Anticristo, segundo a agência de notícias Reuters.

E mesmo sete anos depois do lançamento, o filme continua dando o que falar.

Em fevereiro, um tribunal da França proibiu a exibição em cinemas, televisão e vídeo por causa do seu conteúdo sexual e violento.

O grupo católico francês Promouvoir recorreu à justiça pedindo a reclassificação de Anticristo para evitar que menores de 18 anos o assistissem.

Antes dessa decisão, o filme era proibido para menores de 16 anos.

Um juiz acatou o pedido em função das cenas de "grande violência" e de "sexo não simulado".

Mas como a produção data de 2009 e está fora de cartaz há anos, o impacto principal diz respeito à venda de DVDs, que precisariam ser atualizados com a nova indicação etária, e às exibições na TV, restritas a horários noturnos específicos.

O Proumovoir é conhecido por se manifestar radicalmente contra cenas de sexo no cinema.

O grupo já obteve sucesso em processos semelhantes contra Azul é a Cor Mais Quente, Love, Cinquenta Tons de Cinza e Ninfomaníaca, este último também de Lars von Trier.

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