58º Festival de Berlim

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58º Festival de Berlim

Segunda, 11 de fevereiro de 2008, 15h34 Atualizada às 16h31

'Tropa de Elite' leva realidade das favelas a Berlim

O diretor José Padilha sacudiu nesta segunda-feira o Festival de Berlim com o filme Tropa de Elite, uma imersão na guerra das favelas a partir da perspectiva policial, onde se fundem a denúncia social e a identificação com agentes que combatem a violência com mais violência e alimentam a espiral de corrupção.

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A produção chegou ao festival envolvida na polêmica de até que ponto o filme justifica a brutalidade policial na luta contra as facções de traficantes que controlam as favelas do Rio de Janeiro.

Tropa de Elite começa com os preparativos para a visita que o papa João Paulo II faria ao Rio de Janeiro em 1997, e a "operação limpeza" implementada devido à intenção do pontífice de ficar, durante sua estadia, na casa do cardeal-arcebispo, perto do Morro do Turano.

A câmera de Padilha se transforma na sombra dos oficiais encarregados da missão, que fazem parte do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) do Rio de Janeiro, e especificamente de três de seus personagens - o capitão Nascimento e os aspirantes Neto e Matias.

A partir desta perspectiva, narra tanto a batalha contra os grupos fortemente armados que controlam as favelas do estado como contra a própria corrupção policial. "No Brasil, temos uma Polícia corrupta, que mata e extorque e a qual o povo odeia", disse o diretor, deixando claro seu distanciamento em relação a uma corporação que entra nas comunidades sob o lema "atirar primeiro para perguntar depois".

"Só no Rio, em um ano, houve mais mortos por violência policial que na última Intifada", ressaltou. Mais dados: nos Estados Unidos cerca de 200 pessoas morrem por ano por causa da violência policial, enquanto no Rio o número sobe para 1,2 mil.

Isso não quer dizer, no entanto, "que as facções que controlam as favelas não sejam tão ou mais brutais, independentemente de que entendamos o porquê de essa violência se originar, e que dentro das favelas mesmo as ONG precisem pactuar com eles (os traficantes)".

É um círculo vicioso, disse Padilha, no qual a brutalidade dos grupos e a corrupção policial se alimentam mutuamente e no qual um idealista que deseje mudar a sociedade, como o aspirante Matias, se depare com um sistema que gera e multiplica violência.

Os propósitos de denúncia do diretor ficaram claros, mas não os resultados. Tropa de Elite é um filme que, antes de chegar às salas de cinema do Brasil, já havia sido visto por 11,5 milhões de brasileiros, devido a uma extraordinária disseminação de cópias piratas.

"É um fato sem precedentes, que prejudica a produção, mas que ilustra até que ponto havia sede por vê-la", disse o diretor. Padilha também é autor do documentário Ônibus 174, sobre a história real do seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro, contada de uma perspectiva diferente, procurando evidenciar o contexto que levou o jovem seqüestrador a cometer o crime.

De acordo com o cineasta, Tropa de Elite pretende, sobretudo, "convidar" à reflexão sobre esse círculo vicioso.

O resultado, no entanto, é um filme magistralmente filmado, com um certo pulso de documentário, que deixa no ar a sensação de que as ações dos agentes do BOPE se justificam, exaltando, algumas vezes, a violência policial.

A imersão de Padilha nas favelas foi dividida no festival com uma temática bem distinta: a feita por Doris Dörrie sobre uma família tipicamente alemã em Kirschblüten ¿ Hanami, primeiro representante da Alemanha na mostra.

Se Tropa de Elite deixa o espectador mergulhado por imagens e eventos, Dörrie faz com que o público entre em um mundo onde o tempo passa no ritmo em que as cerejeiras florescem.

Um homem com dificuldades para se comunicar com outras pessoas perde sua esposa, que havia trazido à sua existência a pouca fantasia que parecia disposto a aceitar devido à sua paixão pela rotina e ao aborrecimento.

O homem, magnificamente interpretado por Elmar Wepper, até então incapaz de viver fora de seu povoado bávaro, inicia, a partir do desespero gerado pela perda, uma viagem ao Japão, país ao qual sua mulher sempre quis visitar e no qual mora um de seus filhos, plano eternamente adiado por ele.

Dörrie retrata pelas mãos de Wepper e Hannelore Elsner -uma grande dama do cinema alemão - a falta de comunicação entre gerações diferentes de tantas famílias alemãs, onde é mais fácil conversar com a namorada lésbica de sua filha que com a própria, ou com uma mendiga japonesa do que com o filho que mora no país.

O cinema alemão cumpriu, com isso, a obrigação de bom anfitrião: ser agradável sem perturbar, estar correto e se deixar aplaudir, até o ponto de poder ser alçado, sem posar de arrogante, a forte candidato a um Urso.

Encerrou a rodada competitiva do dia "Sparrow", de Johnnie To, que retrata Hong-Kong pelas mãos de um quarteto de batedores de carteiras, transformados em personagens de um enigma intrigante.

EFE

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