58º Festival de Berlim

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58º Festival de Berlim

Terça, 12 de fevereiro de 2008, 17h56 Atualizada às 00h07

'Happy-Go-Lucky' refresca Festival de Berlim com elogio à felicidade

O britânico Mike Leigh refrescou hoje o Festival de Cinema de Berlim com Happy-Go-Lucky, um elogio à felicidade, por mais que as criaturas felizes possam enervar o resto do mundo.

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A produção de Leigh dividiu os holofotes do dia com o documentário S.O.P.: Standard Operating Procedure, de Errol Morris, sobre as torturas a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib.

"O mundo não é maravilhoso, por isso é importante responder com otimismo ao negativismo da vida", afirmou Leigh sobre o mundo que retrata em sua comédia, construída sobre a história de uma jovem de Londres empenhada em ser feliz mesmo depois de sua bicicleta ter sido roubada.

Poppy, interpretada por Sally Hawkins, é o nome dessa moça imune à amargura. O outro lado da moeda é Scott, encarnado por Eddie Marsan, um professor de auto-escola torturado e "torturante".

Do encontro de ambos surge um filme delicioso, com cenas magistrais, como uma aula de flamenco, na qual a professora mostra para seus alunos o segredo da dança como arma para marcar território, na vida e no amor.

"O flamenco é sexy; é raiva, força e paixão. A cena foi incluída enquanto o personagem era desenvolvido porque se encaixava no esquema vital de Poppy", explicou Leigh.

Para Hawkins, "Poppy é uma moça que ama a vida". O acerto de Leigh consiste em refletir isso e em demonstrar que ela não é uma garota festeira sem cérebro, mas um ser dotado de enorme sensibilidade para captar traumas alheios e dar respostas adultas quando a situação exige tal conduta.

Leigh deslumbrou o Festival de Berlim com um filme que deixa de lado seu estilo mais social ou dramático, como em Segredos e Mentiras (1996) e Vera Drake (2004).

Segundo o diretor, Happy-Go-Lucky "não é um filme de seres claros ou escuros, é um filme com seres dominados pelo lado obscuro ou pelo lado positivo, mas sem unilateralidade".

O mundo vivamente colorido de Poppy arrancou risos e ovações, em um dia também marcado pela exibição do filme de Errol Morris, o primeiro documentário a participar da mostra competitiva do Festival de Berlim em toda a sua história.

Meticuloso, Morris disseca em S.O.P. as fotografias que sacudiram o mundo em 2003, nas quais soldados americanos foram mostrados humilhando e torturando presos iraquianos e posando sorridentes junto aos corpos dos detentos.

O diretor teve à sua disposição um material valioso: os testemunhos de protagonistas das fotos, como a soldado Lynndie England - presente na famosa imagem com um preso amarrado como um cachorro - e sua colega Sabrina Harman, que sorria junto a um detento que havia sido torturado até a morte.

Em frente às câmeras, as duas contam detalhes de como e por que essas fotografias foram tiradas.

England relata sua experiência em um Exército onde as mulheres não podem demonstrar fraquezas e explica que se deixou aparecer nas fotos para impressionar seu namorado, o militar Charles Graner, que também aparece em algumas imagens.

Morris coloca o ocorrido em Abu Ghraib como parte de um Standard Operating Procedure - ou seja, um procedimento habitual com presos iraquianos -, no qual o ato de deixar os detentos nus e fazê-los posar diante de militares mulheres era uma forma de humilhação sexual.

Segundo o filme, o ocorrido não foi obra de um grupo isolado de soldados, mas respondia a uma estratégia concreta aprovada desde os altos escalões.

O problema é que as quase duas horas minutos do frio documentário, no qual são combinados o relato das testemunhas com as fotografias, mais as cenas de ficção representando algumas torturas, não despertam empatia.

A exibição de Night and Day, do coreano Hong Sangsoo, completou o dia de hoje no Festival de Berlim. Como normalmente ocorre com os filmes asiáticos no evento, a produção foi escalada para a nada atraente sessão das nove da manhã e, além disso, seus 145 minutos não motivaram quase ninguém a acordar cedo.

Os que levantaram para assistir Night and Day encontraram um filme um tanto quanto vazio, mas agradável, sobre o diário de um coreano foragido em Paris por um problema policial.

O homem alterna as conversas noturnas com sua esposa, em Seul, com longos passeios com uma bolsa de plástico por um mundo que não lhe pertence, no qual nem chega perto dos franceses e onde seu único reduto são os compatriotas.

Passam por ele uma sucessão de mulheres - da própria às que vai conhecendo -, todas coreanas, todas idênticas, todas mentirosas, até que uma dessas mentiras o faz voltar para Seul.

EFE

Getty Images
Sally Hawkins está no elenco de <i>Happy-Go-Lucky</i>
Sally Hawkins está no elenco de Happy-Go-Lucky

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