58º Festival de Berlim

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Quarta, 13 de fevereiro de 2008, 11h08

Morelli: "Cidade dos Homens" faz reflexão sobre pais ausentes

O diretor brasileiro Paulo Morelli culminou em Berlim seu trabalho de quatro anos na série de TV Cidade dos Homens com um longa-metragem homônimo centrado no amadurecimento de dois jovens e sua "relação com seus pais ausentes", explicou hoje o cineasta à EFE.

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Acerola e Laranjinha, interpretados respectivamente por Douglas Silva e Darlan Cunha, cresceram na favela carioca do Morro da Sinuca, "mas sem se envolver com o tráfico", e nesta última aventura deverão decidir seus rumos, "se vão repetir os erros dos pais ou serem donos de seus próprios destinos", disse Morelli.

A série Cidade dos Homens deriva do sucesso de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que também participou da produção do filme, com vários atores de seu filme, inclusive Douglas e Darlan.

A ausência da figura paterna para a maioria das crianças das favelas é, segundo Morelli, "o principal motivo" para que elas, mesmo muito jovens, fiquem "fascinadas" com os líderes do narcotráfico, "em quem vêem um guia, um ser poderoso que pode dar de tudo a elas".

Segundo o cineasta, se Cidade de Deus retratou o processo de transformação de um jovem em traficante com a favela como cenário, Cidade dos Homens dá voz a quem tenta sobreviver à margem da violência.

Após quatro temporadas na televisão, o filme, que inclui flashbacks da série, revela as últimas dúvidas da história: "Laranjinha encontrará o pai que nunca conheceu?" e "Acerola vai assumir sua responsabilidade de pai do pequeno Clayton, mesmo sendo ainda um adolescente?".

"A falta de uma figura paterna, comum nas favelas, onde a maioria das pessoas tem filhos muito cedo, provoca distúrbios no comportamento das crianças, muito mais fáceis de serem recrutadas pelo narcotráfico", afirmou Morelli, cujo objetivo é mostrar um retrato "humano e emotivo" desses jovens.

O diretor destacou que a violência não é o foco principal da trama - "mas ela está presente o tempo todo" -, que aborda a importância da família para proteger as crianças dos traficantes de drogas.

Morelli contou que o filme foi rodado em sete favelas do Rio de Janeiro para criar uma "metáfora da favela" que representasse todas elas e disse que a filmagem aconteceu sem incidentes.

"Os dois jovens protagonistas são um exemplo de que o destino pode ser mudado, que uma pessoa pode sair da sombra de seu pai e criar um novo legado", disse.

Cidade dos Homens é o terceiro longa-metragem sobre a violência das favelas apresentado nesta edição do Festival de Cinema de Berlim, na seção Generation, depois de Maré, nossa história de amor, da diretora Lúcia Murat, e o impactante Tropa de Elite, de José Padilha, que concorre ao Urso de Ouro.

Morelli diz que o cinema brasileiro não se resume ao tema da violência, e acrescenta que existe na Europa uma "certa fascinação e curiosidade para compreender o intenso, vibrante e violento" mundo das favelas.

EFE

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