61º Festival de Cannes

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61º Festival de Cannes

Sábado, 17 de maio de 2008, 09h34 Atualizada às 09h37

Filme de Walter Salles tem recepção moderada em Cannes

Orlando Margarido
Direto de Cannes

Sem grande entusiasmo ao final, mas também sem manifestações contrárias, os jornalistas, na manhã deste sábado, à primeira sessão de Linha de Passe, filme em parceria de Walter Salles e Daniela Thomas que concorre à Palma de Ouro.

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Mas aplausos são obviamente um registro incompleto para codificar a recepção de um trabalho no cinema e o melhor é esperar pelas primeiras críticas entre o final do dia de sábado e começo de domingo.

Mais estimulante foi a entrevista da qual participaram os realizadores e os jovens intérpretes dos quatro irmãos - núcleo da história com a mãe, vivida por Sandra Corveloni, que não pôde vir a Cannes.

De maneira geral, as perguntas refletiram os principais elementos da produção, como a opção de Salles e Daniela de filmar em São Paulo, a gênese documental da fita a partir de um fato real e o parentesco com o neo-realismo italiano. Foi lembrada também a semelhança do drama com o clássico Rocco e Seus Irmãos, realizado pelo italiano Luchino Visconti em 1960.

"Eu esperava essa aproximação", disse Salles. "Mas gosto mais dos primeiros filmes de Visconti, em que ele trabalhava com atores do povo, não profissionais, o que seria uma das marcas do neo-realismo; no nosso filme, a maior parte do elenco é vivido por pessoas do meio, não há extras; motoboys são motoboys de verdade, evangélicos também e assim por diante."

Salles lembrou ainda que o fator que desintegra a família de Rocco é a imigração, diferente do problema social e das aspirações presentes no lar de Cleuza (Sandra Corveloni) e seus filhos.

Dario (Vinícius de Oliveira, de Central do Brasil, único ator profissional) é uma espécie de epicentro da trama, com seu desejo de chegar ao futebol pelas 'peneiras' de seleção para os times. Dênis (João Baldessarini) divide-se entre a vida maluca de motoboy e uma ex-mulher e filho que pouco vê.

O evangélico Dinho (José Geraldo Rodrigues) está em crise com sua vocação, enquanto o caçula Reginaldo (Kaíque de Jesus Santos) procura com obsessão o pai, um motorista de ônibus que não conhece. Foi este último personagem que inspirou de início o roteiro da fita, no caso real ocorrido em São Paulo de um garoto que roubou um ônibus e o dirigiu por três horas para chamar atenção e descobrir seu pai, atitude repetida mais trinta vezes.

"Isso veio de encontro a uma idéia sempre presente para mim de que o Brasil sente falta de uma figura paterna", explicou Salles. "Desde a colonização, passando por momentos como o governo de Getúlio Vargas, o 'pai dos pobres', e chegando hoje a muitos lares brasileiros em que a mãe é também pai, como diz Cleuza num certo momento do filme."

Especial para Terra

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