61º Festival de Cannes

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Sábado, 17 de maio de 2008, 10h13 Atualizada às 11h45

Walter Salles: Brasil se explica pela ausência crônica de um pai

"O Brasil se explica pela ausência crônica de um pai", afirmou neste sábado o cineasta Walter Salles, que tem seu filme, Linha de Passe, co-dirigido com Daniela Thomas, apresentado na competição oficial de Cannes.

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Inspirada em grande parte por fatos reais, Linha de Passe conta a história de quatro irmãos que buscam seu caminho na vida. De pais diferentes, os quatro vivem com sua mãe, empregada doméstica que espera outro filho.

Como em Terra Estrangeira, primeiro filme que reuniu os dois diretores, e Central do Brasil de Salles, Linha de Passe apresenta um panorama com um pai ausente.

"O Brasil se explica pela ausência crônica de um pai, historicamente. Os portugueses nos deram o nome de uma árvore, e em seguida levaram para Portugal todo o pau-brasil que existia na costa. Dessa forma, fomos batizados por um pai-padrasto que deixou o país abandonado. Talvez isso explique porque estamos sempre em busca de um pai", declarou Salles em coletiva de imprensa após a primeira exibição do filme.

"Tivemos um presidente, Getúlio Vargas, que era chamado de 'pai dos pobres', mais uma vez o pai que se busca. Recentemente se publicou uma estatística que mostra que o número de famílias sem pai no Brasil é de cerca de 20%".

"O resultado é que muitas família brasileiras são dirigidas por mães corajosas que fazem o papel da mãe e do pai, elas representam para mim uma espécie de resistência moral, ética. Isso aparece no filme", explicou.

Em relação à direção compartilhada com Daniela Thomas, Salles declarou que sua "idéia era volta ao cinema como uma aventura coletiva". "É algo difícil de fazer de maneira contínua, mas depois de vários filmes sozinho, poder voltar a essa essência coletiva e fazer um filme enriquecido por olhares diferentes alimenta não apenas esse projeto, mas também os outros".

Ao comentar sobre as etapas do projeto, o cineasta brasileiro explicou que "houve uma dialético ao redor do filme como um todo", com "todas as etapas feitas a quatro mãos", com um "trabalho de liberdade que incorporou as colaborações dos atores, quase todos estreantes, que enriqueceram o roteiro com suas idéias e improvisos".

Doze anos após Terra Estrangeira, Salles e Thomas quiseram voltar o olhar para a juventude brasileira. Mostra-se "uma família disfuncional, uma família um pouco em pedaços, um pouco da imagem do Brasil, mas sem romantismo. Por uma vez, queriam fazer um filme sobre as pessoas que se salvam", comentou o diretor.

"Vivemos em um país em que a realidade está em movimento constante, o Brasil é, contudo, um país em formação. A cada dois dias temos a impressão de confrontar uma realidade que não conhecíamos, uma realidade que ultrapassa a ficção", acredita Walter Salles, assinalando que isso "impõe um verdadeiro desafio aos cineastas: Como acreditar em histórias sincronizadas com nosso tempo? Como fazer filmes do mundo em que vivemos?".

"Para integrar essa realidade ao cinema, nós partimos de história reais, nos inspiramos em documentários" e a partir disso "criamos um roteiro aberto para que a história transforme o filme". Linha de Passe é um filme "feito no limite entre o documentário e a ficção, porque os 'docudramas' não me agradam em nada", concluiu Salles.

AFP

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