61º Festival de Cannes

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Domingo, 18 de maio de 2008, 08h49 Atualizada às 09h04

Diretor chinês exibe o melhor filme de sábado em Cannes

Orlando Margarido
Direto de Cannes

Os dois filmes em competição vistos a neste sábado em Cannes fecham um dia de trabalho duro para os jornalistas. A programaçao começou de manhã cedo com Linha de Passe, o filme dos brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, e prosseguiu com o belo e exigente documentário (mais apropriado seria dizer um semi-documentário) 24 City, do cultuado chinês Jia Zhangke, além do filme filipino Serbis (algo como serviço), de Brillante Mendoza.

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Serbis ainda não foi cotado pelos críticos ouvidos pela revista Screen, mas Linha de Passe já aparece bem cotado, em terceiro lugar, empatado com Un Conte de Noël. Já o filme de Zhangke emparelha com o preferio até agora, Três Macacos.

De Serbis vale comentar muito pouco. Numa sala de cinema pornô decadente, também adaptado para moradia, uma família enfrenta seus problemas, da avó matriarca às voltas com a decisão da justiça sobre a condenação do marido que a traiu à gravidez indesejada da namorada de um dos netos. É um filme explícito em todos os sentidos, a começar por uma cena de sexo oral.

Prossegue radical no barulho da rua que invade permanentemente o estabelecimento, nos encontros sexuais rápidos da sala frequentada por gays , na imundície do local mal conservado e nas relações deterioradas do clã. Mas o filme pouco avança além de jogar uma realidade bruta para o espectador. Se o fizesse, talvez tivessemos aí uma representação além do desejo de chocar, com apelo dramático, a exemplo do brasileiro Claudio Assis em Amarelo Manga, que transcorre num ambiente depauperado, no caso um hotel.

As atenções sobram então para 24 City, que também leva a uma comparação inevitável com o Brasil, no recente e formidável trabalho do documentarista Eduardo Coutinho em Jogo de Cena. Embora em menor grau, há um similaridade com a idéia de confundir o que é real e imaginário no material colhido por Jia Zhangke, além de quem é ator de fato ou personagem verdadeiro. Talvez por isso seja dificil inclui-lo na categoria de docudrama, ou seja, um trabalho de fonte documental intepretado na tela por atores. Pois como Coutinho, o diretor chinês desafia o espectador com um registro diverso do que já se conhece.

Sabe se ao certo que o acontecimento retratado pela fita é verdadeiro, o que costuma ser o ponto de partida de Zhangke em seus filmes como O Mundo e Em Busca da Vida. Uma tradicional usina militar da cidade de Chengdu, pertencente ao estado chinês e que funcionou por 60 anos até 2008, começa a ser demolida para dar lugar a um moderníssimo condomínio de apartamentos e escritórios para os novos ricos locais. O cineasta vai atrás de operários que testemunharam o período, digamos, áureo da indústria e conversa com elas sobre seu cotidiano, frustrações e como vivem depois do fechamento da fábrica.

Em meio a esses depoimentos aparentemente reais, ele inclui o de atrizes como a musa Joan Chen. Ouve também uma jovem (interpretada por Tao Zhao), filha de operários, que nunca se interessou pelo trabalho dos pais e se envergonhava do ofício. A novidade também neste filme do diretor é o uso de músicas populares chinesas e japonesas, trilha sonora erudita e citações que aparecem de quando em quando na tela de poetas, entre eles o irlandês W.B.Yeats.

Zhangke faz um pedido exigente ao espectador de entender um conflito entre a nova e moderna China e o país comunista que rapidamente desaparece. Mas a recompensa vem num olhar agudo, ao mesmo tempo belo e triste, que nao desaponta.

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