61º Festival de Cannes

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61º Festival de Cannes

Domingo, 18 de maio de 2008, 14h01 Atualizada às 15h07

'Indiana Jones 4' mantém o charme com trama clássica

Orlando Margarido
Direto de Cannes

Quase três décadas depois de iniciar a ascensão como uma das aventuras mais populares do cinema, a saga de Indiana Jones voltou com pompa, circunstância e delírio dos fãs no 61º Festival de Cannes. O novo filme da série, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, foi exibido fora da competição, para uma platéia lotada de jornalistas na Grande Salle Lumière, o endereço do famoso tapete vermelho.

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Fora da sala, uma multidão aguardava a possibilidade de ganhar convites de algum desistente. Os poucos bilhetes que surgiram acabaram por criar uma espécie de mercado negro de venda, tudo extra-oficial, com preços que chegavam a 50 euros.

Dentro da sala, a diversão foi garantida, com Harrison Ford a frente do elenco, numa trama que remete à trama clássica dos três filmes anteriores - Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) - para o bem e para o mal.

Para a geração da primeira leva, não há novidade na estrutura da história, nem piadas novas ou autoparódicas. Para quem, no entanto, foi obrigado a recuperar a trilogia pelo formato DVD, a caçada do herói e seu grupo de amigos por um crânio mágico que dá poderes a quem o detém pode ter frescor mas também uma ingenuidade arriscada.

Mas é para essa turma jovem, que passou ao largo do sucesso da série, que o novo filme foi feito, garantiu o diretor Steven Spielberg. "Eu e George Lucas (o produtor da série) achamos que devíamos essa história a quem ouvia falar dos filmes mas não podia vê-los", disse o cineasta. "Ao mesmo tempo contar uma aventura como acreditamos que ainda deve ser."

Desse ponto de vista, a produção não vai desapontar ninguém com uma trama que remonta ao clima da Guerra Fria dos anos 50 e a paranóia do comunismo. Há mesmo um leve e asumido tom de pastiche, além de uma prevenida noção de que o tempo passou para o protagonista Harrison Ford, e portanto ele pode justificar alguns tropeções e falhas nas manobras de seu chicote.

Veio a calhar essa idéia com a emoção demonstrada pelo ator ao falar do retorno ao papel durante uma entrevista para o canal de TV oficial do festival. Olhos marejados, voz embargada, ele lembrou que o encontro e apoio de profissionais como Spielberg e Lucas foi uma experiência única.

"Só tenho ótimas memórias daquele período, e foi incrível repeti-las agora, com uma parte do time do passado e uma nova turma que nos trouxe outras influências". Ford se refere a Cate Blanchett, que interpreta a vilã russa com um sotaque no limite do farsesco, Shia LaBeouf (Transformers), o jovem companheiro de Jones na aventura e ligado a uma revelação importante na história, além de Ray Winstone e John Hurt, outros estreantes na série.

Ainda lacônico na entrevista, Ford lembrou que foi reticente no início ao aceitar a volta ao papel, mas foi levado pelo impulso de dialogar com um novo público e fazê-lo descobrir a série. Ele também lembrou do reencontro no set com Karen Allen, a única outra "sobrevivente" - atuou apenas no primeiro filme e volta no mesmo papel, agora mãe do personagem de LaBeouf.

Se manter a fórmula original da série, com armadilhas, cobras que amedrontam o arqueólogo Indiana Jones e o jeito desastrado na sua versão de professor Henry Jones Jr., foi uma opção assumida e menos arriscada, há outras mais interessantes e ousadas. Os realizadores - isso inclui Lucas como a mente responsável pela história - levaram para a fita fatos marcantes do período como a bomba atômica, numa cena de efeito impressionante quando uma explosão-teste é detonada numa cidade falsa.

"Foi uma questão marcante para minha geração; o medo da bomba e seu mistério era uma sombra permanente para nós, assim como eramos obrigados a conviver com uma paranóia contra o comunismo", explicou Spielberg.

Esses subtemas, segundo ele, só apareceram quando ele precisou ser convencido por Lucas que valia a pena retomar a aventura. "Lembrei a Spielberg que além de contarmos uma história divertida e excitante, que por si só já poderia ser bem-sucedida, poderiamos incluir passagens importantes para nossa trajetória pessoal e de muitas pessoas no planeta", disse Lucas.

O produtor justificou ainda a escolha de um artefato arqueológico como a caveira para objetivo de busca. "É um símbolo que o mundo todo conhece, é supranacional e poderia conter um sentido mágico de salvação que era importante naquele momento."

Spielberg ainda comentou que acredita no gênero da aventura, mas de forma bem contada e baseada na dedicação e força dos atores. "Acho que filmes como Cassino Royale provam que efeitos especiais não devem ser tudo numa produção e levar o ator a realizar o que ele não pode como ser humano", disse. "Nesse novo capítulo de Indiana Jones tinhamos isso em mente, pois não queriamos que um dublê fizesse o que Ford não pode fazer naturalmente."

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