61º Festival de Cannes

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61º Festival de Cannes

Quarta, 21 de maio de 2008, 14h34

Filme argentino faz crônica de infância em exílio

O primeiro longa-metragem do argentino Pablo Agüero, Salamandra, apresentado nesta quarta-feira na mostra paralela Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, é a crônica de uma infância em exílio através da história de um menino levado da cidade a um lugar perdido da Patagônia.

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Depois da ditadura, Alba (Dolores Fonzi), que acaba de sair da prisão, reencontra seu filho de seis anos, Inti (Joaquín Aguila), que foi criado pela avó, e partem rumo a El Bolsón, remota região da Patagonia, na qual coabitam os mais estranhos personagens: pós-hippies, iluminados e fugitivos da justiça ou de si mesmos, entre eles um homem místico e silencioso (Daniel Fanego) e um extravagante inglês, interpretado pelo músico John Cale.

Todo esse mundinho vive em meio a uma desordem caótica e da hostilidade dos camponeses. Inti tenta desesperadamente encontrar pretexto de sobrevivência nessa sociedade que não compreende e percebe como ameaçadora, enquanto sua mãe vive num mundo próprio de sonhos.

Pablo Agüero, criado no El Bolsón, volta a abordar o mesmo tema de seu curta-metragem Primera Nieve, com o qual foi premiado com o Grande Prêmio do Júri, na categoria curta-metragem, em Cannes em 2006.

O diretor aborda sua própria história, mas afirma que o filme não é uma autobiografia. "É uma busca pessoal. Tentei mostrar o mais íntimo de mim, explorar o ambiente que eu conheço para poder proporcionar algo único. Não para contar minha história.", declarou Agüero.

"El Bolsón é o meio que conheço o povo no qual cresci, e conto as histórias que vivi e conheci, mas a intenção não é autobiográfica", explicou.

"El Bolsón é interessante por seu aspecto universal. Nele reflete-se o mundo", disse, explicando que ali "até os primeiros habitantes são também imigrantes, até o mais velho veio de algum lugar, mas cada leva de imigrantes renega a que chega depois".

O foco de seu filme é o exílio da infância? "O ponto de partida são vivências pessoais que refletem a estrutura de pensamento que me interessa explorar e expressar, uma visão do mundo que tem haver com o exílio".

"Eu fui exilado sempre, desde minhas gerações anteriores, minha mãe foi exilada de outro país e seus avôs também. Essa sucessão de exílios é uma vivência pessoal, mas é também algo que tem a ver com minha missão do mundo, do ser humano", disse, afirmando que "o exílio pode ser também por mudanças culturais em uma cidade ou por mudança social".

O filme é sombrio, sem notas de esperança. É desesperançosa essa sua visão do mundo? "Um escritor disse uma vez que o preto é a única cor interna, o que precisa ser feito é abrir a porta", respondeu Agüero.

"Não acredito que seja desesperançoso porque quando se cria uma obra se cria algo positivo, construtivo, porque se acredita que a realidade vale a pena ser contada e observada", afirma, lembrando que, quando criança, "lia livros e todos eram tristes".

David Copperfield, por exemplo, o fez "chorar", mas o deixou "maravilhado". "Me representava e representava minhas tristezas, e isso tinha algo de lindo e positivo", concluiu o diretor argentino.

AFP

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