61º Festival de Cannes

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Quinta, 22 de maio de 2008, 14h37

"Cinema é irrecusável", diz Daniel de Oliveira em Cannes

Orlando Margarido
Direto de Cannes

O ator Daniel de Oliveira, 30 anos, recém-saído da novela Desejo Proibido, da Globo, na qual interpretou o vilão Henrique, pretende concentrar agora sua carreira no cinema. "Estão aparecendo projetos ótimos, de realizadores maravilhosos que me trazem desafios; cinema tem sido irrecusável ultimamente e quero dar prioridade ao filmes", diz.

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Entre essas oportunidades, o ator mineiro radicado no Rio de Janeiro, inclui A Festa da Menina Morta, em competição pela Caméra D'Or, o prêmio para novos diretores no Festival de Cannes.

O filme foi exibido ontem e nesta quinta-feira na 61ª edição da mostra, na seleção Un Certain Regard, com boa acolhida. É o primeiro filme na direção do ator Matheus Nachtergaele. Ele, Daniel e outros atores do elenco como Juliano Cazarré (A Concepção) estão na riviera francesa para divulgar a fita.

Na trama, uma pequena comunidade ribeirinha no Amazonas adora com fervor religioso um pedaço de vestido de uma menina cuja morte está envolta em mistério. Daniel interpreta Santinho, figura que representa o poder milagroso concedido pelo traje e símbolo maior da festa anual em homenagem à menina. É temido e respeitado pelos moradores, a quem atende com bênçãos.

"Muito mimado e paparicado, Santinho é uma pessoa dura no tratamento com quem está em volta, mas faz isso para ocultar sua fragilidade e o sentimento da falta da mãe, que partiu", explica o ator, que veio acompanhado da mulher, a atriz Vanessa Giácomo.

O personagem pensado por Matheus, responsável pela história e autor do roteiro em parceria com Hilton Lacerda, é o epicentro da situação. Os elementos que compõem a existência de Santinho, que passa os dias em casa com o pai e as mulheres que cuidam dele, inclui ainda o incesto. "É outra complicação de uma estrutura familiar desestabilizada; ele exerce também o papel feminino da casa, é mãe, esposa...", acrescenta Daniel.

O ator que já foi Cazuza no filme de Sandra Werneck e Frei Betto em Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, diz que este foi um dos personagens mais complexos que viveu até agora para o cinema. Para começara a entender e compor o personagem de Santinho, Daniel disse que chegou à localidade de Barcelos, a 400km de Manaus, de barco. Ele e Juliano fizeram a viagem de 36 horas para conhecer aos poucos os hábitos da população amazonense.

"Conhecia o Amazonas do turista, não da vida real". Durante o mês que a equipe permaneceu no vilarejo, que não conta com cinema ou livraria, o ator travou conhecimento com ritos religiosos, curandeiros, pajés e benzedeiras. Visitou ainda a comunidade do Santo Daime.

"Há tradições antigas que ainda resistem por lá e que no resto do Brasil nem temos idéia de que existem ainda; foi fundalmental entender a importância e o valor que se dá a elas para chegar à personagem de Santinho, uma mistura de vários credos".

Além das indicações que já constavam do roteiro, Nachtergaele utilizou métodos como o butô, a dança japonesa nascido no pós-II Guerra, para treinar os atores profissionais. Para os moradores que atuam no filme, ele realizou um workshop que durou um mês. Daniel colaborou no filme também com a música que serve de cantiga para exortar a figura da menina, e ainda teceu o manto que veste na noite de festa.

"Matheus, além de um ator e um realizador de uma sensibilidade maravilhosa, também é generoso e ouviu e aprovou muitas sugestões da equipe". Uma delas diz respeito a uma homenagem pessoal de Daniel vista no filme. O Cristo que aparece em uma das paredes da casa de Santinho tem a foto do pai do ator durante um período de trabalho no Iraque há mais de cinco anos.

"Ele já morreu e achei que era um bom momento de prestar-lhe uma homenagem, com todo o sentimento religioso que permeia esse filme e um universo que nos faz abrir o coração para o novo e o diferente".

Enquanto espera um novo convite para o cinema, Daniel já se prepara para trabalhar numa série da O2 Filmes para a televisão do Canadá. Dirigido por Fernando Meirelles, o projeto tem como cenário uma companhia teatral.

Especial para Terra

Alexandre Baxter/Divulgação
Daniel de Oliveira é Santinho em <I>A Festa da Menina Morta</i>
Daniel de Oliveira é Santinho em A Festa da Menina Morta

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