"Massacres como o do filme são comuns", diz diretor filipino
Nem o banquete de sangue dos vampiros de Thirst, nem os tiroteios estilizados de Vengeance, filme do diretor de Hong Kong Johnnie To exibido esta manhã na competição oficial. A cena mais brutal e chocante até agora em Cannes foi trazida pelo filipino Brillante Mendoza em seu Kinatay. Um grupo de homens, entre eles um policial, rapta uma prostituta que tem uma dívida pendente e a leva para uma casa abandonada.
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Ali ela continua a ser torturada, é estuprada e finalmente esquartejada com faca e machado. Não é adiantar todo o mote do filme contar essa passagem. Mais do que a carga explícita de violência, o que importa para o diretor é como mostrá-la e o seu significado para quem a desfere e a acompanha de perto, no caso um jovem estudante da academia de polícia atraído pela chance de ganhar um dinheiro. O personagem, explicou Mendoza em entrevista nesta manhã, seria o olhar que leva a platéia para dentro do filme e mais próximo do horror.
Nem todos os presentes na sessão competitiva ontem à noite gostaram da experiência. Poucos aplausos e algumas vaias definiram a polêmica da fita. Mas Mendoza já está habituado com a provocação de seu trabalho, a julgar por reação semelhante a Serbis no ano passado.
Mas neste caso, a repugnância que sentiram alguns não dizia respeito à brutalidade da violência, e sim à rudeza que se impunha constantemente na tela. Em Kinatay, em tradução livre algo como massacrado, Mendoza buscou na crônica policial, segundo explicou, a trama de seu filme.
"Esses casos são constantes nas Filipinas e as pessoas se acostumaram a ler sobre essas mortes, sem mais dar conta de seu horror", disse. "Eu pretendi com o filme mostrar a brutalidade da forma mais crua possível e assim tirar a banalidade desse atos que o jornais trazem com freqüência".
O questionamento em geral na entrevista disse respeito à forma explícita, detalhada e exasperante com que Mendoza vai construindo seu "fait divers", a expressão que se usa aqui na França para fatos grostescos da crônica policial. Além de uma câmera nervosa, o diretor usa recursos como cenas escuras, em que muitas vezes não se distingue o que acontece e o tempo real, este uma marca que começa a ser associada a seu trabalho.
Ele explicou que para realizar este que é seu filme de produção mais complicada pensou muito nos filmes filipinos dos anos 60 sobre crimes voltados ao entretenimento. "São muito populares ainda; como estão no imaginário dos filipinos, eu precisei me distanciar desse formato para que meu filme não parecesse entretenimento; daí a opção dos detalhes, do tempo real, que permite ao espectador acompanhar como se estivesse fazendo parte do processo".