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Enquanto aumenta o clima de expectativa em torno da Copa do Mundo, o jogador de futebol francês Zinedine Zidane aparece no Festival de Cinema de Cannes este ano num documentário incomum que pegou muitos espectadores de surpresa.
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Zidane: A 21st Century Portrait (Zidane: Um Retrato do Século 21) é um filme impressionista e experimental que destoa em muito do tratamento tradicional dado a celebridades retratadas em documentários.
O meio-campista é filmado em tempo real por 17 câmeras diferentes durante uma partida disputada em abril do ano passado entre seu clube, o Real Madri, e o Villareal. O espectador vê closes de seu rosto, tornozelos, mãos, pernas e tórax, e em outros momentos a câmera abre o ângulo de visão para abarcar o estádio inteiro.
As imagens entram e saem de foco, e o som em alguns momentos é um rugido ensurdecedor, e em outros se reduz ao silêncio. O uso de música eletrônica cria tensão crescente, e a trilha sonora também inclui a gravação de uma partida de futebol num campo escolar.
Ao contrário da cobertura televisiva das partidas de futebol, a ação é muito pouco contextualizada. O filme opta, em vez disso, por focar exclusivamente o jogador Zidane, que entra e sai da partida. Zidane, que tem 33 anos e se prepara para aposentar-se do futebol depois da Copa, exibe sua visão e seu toque brilhantes, em um momento passando entre três jogadores da defesa adversária para fazer um cruzamento para um colega, que então marca o gol.
Mas o filme também parece defender a idéia de que o futebol não passa de um esporte, sem significado maior, que envolve homens correndo por um campo e dando voltas por um gramado.
No meio-tempo da partida, o filme, dirigido pelo escocês Douglas Gordon e o cineasta francês Philippe Parreno, corta para uma notícia de televisão sobre uma explosão provocada por um homem-bomba no Iraque. Um rapaz no palco da carnificina está usando uma camiseta de Zidane.
Reflexões do jogador
Zidane oferece reflexões ocasionais que são mostradas em legendas em francês na tela, nas quais ele medita sobre o futebol e a vida. "Às vezes, quando você chega ao estádio, tem a sensação de que tudo já está decidido", diz ele nas legendas. "O roteiro já foi escrito".
Zidane foi campeão mundial jogando pela França em 1998 e, em 2001, se tornou o jogador mais caro do mundo, quando o clube espanhol Real Madri comprou seu passe do italiano Juventus por US$ 66 milhões.
As notas de produção indicam que, num primeiro momento, Zidane não se interessou pelo projeto do documentário, mas que acabou se deixando convencer pelos responsáveis pela produção. Ele não foi a Cannes para divulgar o filme, devido aos treinos para a Copa da Alemanha, que começa em junho.
Os críticos avisaram o público que espera uma visão tradicional de Zidane que ele pode se decepcionar. "O filme oferece um retrato audiovisual de um ícone do século 21 de uma maneira condizente com o novo milênio", escreveu a revista especializada Variety, prevendo reações diversas entre os espectadores.
O Hollywood Reporter foi menos condescendente. "O espectador verá um homem careca, de shorts, que já passou da flor da idade, encharcado de suor e com expressão perplexa no rosto", diz sua resenha.
No final do filme, Zidane é expulso de campo por ter se envolvido numa confusão perto do final da partida. "A magia às vezes é algo que chega muito perto do nada, do nada absoluto", comenta Zidane, concluindo: "Quando eu me aposentar, vou sentir falta do verde do campo".
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