Cannes 2007

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Segunda, 14 de maio de 2007, 08h32  Atualizada às 14h18

Festival de Cannes traz críticas mais "pesadas"

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A crítica no Festival de Cannes é "mais violenta que em qualquer outro lugar", porque a "aceleração midiática" pode desencadear paixões sobre os filmes, avaliados por 4,5 mil jornalistas, opina Maria de Medeiros, autora de um documentário sobre a edição de 2002 da mostra e membro do júri da edição deste ano.

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"Sim, as críticas são mais violentas do que em qualquer outra parte. Os próprios críticos reconhecem", diz a atriz portuguesa, que na 60ª edição do Festival (16-27 de maio) fará parte da equipe que, sob a presidência do inglês Stephen Frears, concederá a Palma de Oro.

"Em Cannes, há uma espécie de aceleração, se vive em um microcosmo em que as coisas podem chegar a um termo muito extremo", explica Maria de Medeiros, que entrevistou mais de 60 cineastas e jornalistas para seu documentário Je t'aime moi non plus, que se estréia nesta semana na França.

No filme, a distribuidora Mima Fleurent, que descobriu, entre outros, Pedro Almodóvar, na França, mostra uma coleção de recortes de artigos reunidos ano após ano. Em um deles, está escrito: "Outro filme espanhol, desculpem o pleonasmo". "Neste caso, é um verdadeiro abuso: é insultante para todo o cinema espanhol e sabemos que este é repleto de talentos", protesta a atriz e diretora portuguesa.

Após uma crítica um tanto forte, o cineasta alemão Wim Wenders "quis quebrar a cara" do crítico do jornal francês Libération, Gérard Lefort, relata o diretor no filme de Medeiros. Lefort reconhece que saiu vitorioso da difícil situação ao dizer a Wenders que tal gesto seria "a negação de todo seu cinema".

"Lamento ter perdido alguns acertos de contas ao vivo!", diz, em meio a risos, Maria de Medeiros, "mas alguns dos protagonistas não têm o menor problema em contá-los, às vezes inclusive com algum orgulho".

No fim, o crítico "alcança através de um texto e uma assinatura algo que pode provocar ondas de alegria, gratidão e de amor incríveis ou, ao contrário, um sentimento de agressão e de humilhação terríveis". "Mas não tem rosto. Minha idéia foi lhe dar um, dirigir a câmera até ele", acrescenta.

Todos os críticos filmados, de várias nacionalidades - entre eles os americanos da revista Variety e do jornal New York Times, e os espanhóis dos jornais La Vanguardia e El Mundo -, concordaram em falar de seu trabalho "com grande honestidade", afirma Medeiros. Entretanto, alguns cineastas, como Patrice Leconte, se recusaram de forma taxativa de falar a respeito.

Leconte "me traumatizou. Estou chocada por lembranças muito dolorosas", explica. Finalmente, a crítica é "um exercício bastante perigoso", avalia. Em Cannes, "muitos filmes são vistos por dia e é preciso se formar uma opinião rapidamente, quando a obra de arte ainda está caminhando à nossa mente. Eu acredito que é muito difícil julgar imediatamente, no calor das emoções", ressalta.

Descoberta em Henry&June, de Philip Kaufman, Maria de Medeiros trabalhou em Pulp fiction - Tempo de Violência, sob a direção de Quentin Tarantino e, desde então, não parou de atuar para cineastas franceses, portugueses e brasileiros, como em O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr..

Em 2000, dirigiu seu primeiro filme, Capitães de Abril, sobre a Revolução dos Cravos. Agora, "espera com grande alegria o momento de descobrir os filmes" como membro do júri do Festival de Cannes. "Vejo Cannes como uma oportunidade fantástica de descobrir nas melhores condições o melhor da produção do ano no mundo inteiro. É maravilhoso!", comemora.

AFP
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