Cannes 2007

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Segunda, 28 de maio de 2007, 11h02 

Cineastas de SP são os únicos brasileiros premiados em Cannes

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O Festival de Cannes de 2007 terminou neste domingo tendo entregue pelo menos uma premiação para brasileiros: os paulistas Juliana Rojas e Marco Dutra ganharam o prêmio Découverte de melhor curta-metragem para Um Ramo na Semana da Crítica, a principal mostra paralela do evento.

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Foi o único prêmio dado a um filme do Brasil na edição deste ano e o primeiro dos dois jovens cineastas.

"Ficamos surpresos porque, apesar de o filme ter sido muito bem-recebido, não esperávamos ganhar nada. Já estávamos muito felizes só por estarmos aqui. Mas é chocante, porque é um prêmio muito importante", disse Dutra.

Os diretores, junto com a produtora Sara Silveira, receberam o prêmio na sexta-feira, na cerimônia de encerramento da Semana, cujo propósito é "descobrir novos talentos de diretores em todo o mundo".

O Découverte é patrocinado pela Kodak e paga 3 mil euros em rolos de película aos vencedores.

Marco e Juliana repetiram o feito do também paulista Esmir Filho, que em 2006 ganhou o prêmio Grand Cru na mesma mostra. Esmir, que este ano voltou com o novo curta Saliva, também ficou famoso no ano passado com o vídeo Tapa na Pantera, transformado em fenômeno ao ser divulgado pelo YouTube.

Entre os longas, o vencedor do Grande Prêmio da Crítica foi XXY, da argentina Lucía Puenzo, filha de Luis Puenzo, diretor de A História Oficial, Gringo Velho e A Prostituta e a Baleia.

Co-produção entre Espanha, França e Argentina, XXY foi exibido na mesma sessão que Um Ramo.

Já na seleção oficial, o vencedor da Palma de Ouro foi o romeno 4 Luni, 3 Saptamini Si 2 Zile, de Cristian Mungiu. O brasileiro Mutum, de Sandra Kogut, concorreu na Quinzena dos Realizadores.

Outros títulos do cinema nacional que passaram em Cannes este ano foram o longa A Via Láctea, de Lina Chamie (também na Semana da Crítica), e o curta Saba, de Gregório Graziosi (Cinéfondation), além do clássico Limite (1930), de Mário Peixoto.

Um Ramo venceu o prêmio concorrendo com outros seis curtas, vindos do Líbano, da Nova Zelândia, da França e do Canadá. O vencedor foi escolhido por um júri de sete cineastas e críticos franceses.

Este ano, o embaixador da Semana da Crítica foi o ator mexicano Gael García Bernal, a quem Juliana chamou de "muito simpático" e engajado.

"Ele demonstrou uma preocupação com o cinema latino-americano em geral, e o mexicano em particular, junto com outros cineastas como Alfonso Cuarón, que também estava lá", disse. Segundo a diretora, em Cannes existe uma preocupação de incentivar o cinema de países latinos.

Marco Dutra e Juliana Rojas já tinham estado no Palácio do Festival em 2005, quando seu curta O Lençol Branco concorreu ao prêmio Cinéfondation, dedicado a filmes universitários.

Em 2002, o carioca Eduardo Valente venceu o mesmo troféu com Um Sol Alaranjado. Para os diretores, as portas de Cannes estão definitivamente abertas para o cinema brasileiro.

"Ano passado, o Esmir já tinha ido e vencido um prêmio. Tanto na Semana da Crítica quanto no Cinéfondation sentimos uma grande receptividade aos filmes brasileiros atuais. Não pelo fato de serem do Brasil, mas porque a qualidade da produção está aumentando", contou Juliana.

Ela atribui essa mudança ao número de editais e projetos de fomento ao cinema independente, que vem crescendo no país.

"Atualmente existem mais oportunidades de apoio do que havia alguns anos atrás. Tendo mais recursos, há mais chances de fazer produtos de qualidade", afirmou.

Em 15 minutos, o curta conta uma história de Clarisse (Helena Albergaria), uma mulher que começa a se transformar em planta. O ramo do título é o primeiro sinal da metamorfose: uma pequena folha que a protagonista vê nascer no próprio braço.

"Quisemos mostrar a história de uma personagem que passa por uma transformação meio fantástica, que pode ser uma coisa boa, mas ao mesmo tempo violenta. Gostamos dessa ambigüidade, que se pode associar com a feminilidade: para a mulher, é assustador ser um ser fértil, uma coisa que gera a vida mas também transforma o corpo e causa dor", explicou Juliana, lembrando que os espectadores têm interpretações diferentes.

O estilo dos cineastas foi comparado pelos críticos em Cannes com os de mestres do suspense, como Alfred Hitchcock e David Cronenberg.

"A obra do Cronenberg foi uma referência inconsciente que a gente teve durante a produção. Achei interessante levantarem que pode ter uma similaridade", diz Marco, satisfeito.

Os dois se formaram em Cinema em 2004 pela Universidade de São Paulo (USP), onde se conheceram. Desde então, já produziram quatro curtas-metragens juntos. Mesmo com a boa receptividade, os realizadores afirmam que não esperavam levar o prêmio e que tiveram uma grata surpresa.

Os brasileiros vão ter que esperar até os festivais nacionais para poder assistir a "Um Ramo". Mas o filme já tem sessão marcada na re-exibição dos selecionados de Cannes que acontecerá em São Paulo, na última semana de agosto, durante o Festival Internacional de Curtas.

Quando voltarem ao Brasil, na terça-feira, Marco e Juliana trarão na bagagem um trunfo para novos projetos. Além de mais um curta em película e dois em vídeo, a dupla prepara a produção do primeiro longa-metragem, chamado Trabalhar Cansa.

Ainda comemorando, Juliana Rojas espera que o prêmio francês vá ajudar a dar impulso para este salto mais longo. "A gente ganhou um prêmio que facilita na hora buscar parcerias no Brasil e no exterior para produzir o filme. Afinal de contas, é Cannes", resume.

EFE
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