Cannes 2007

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Sexta, 18 de maio de 2007, 11h48  Atualizada às 12h02

Leveza francesa e densidade russa conferem equilíbrio a Cannes

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A comédia francesa Les Chansons d'Amour, de Christophe Honoré, e o drama russo Izgnanie, de Andrei Zvyagintsev, ajudaram a equilibrar a competição oficial no Festival de Cannes, que completa, nesta sexta-feira, seu terceiro dia sem muita empolgação.

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Les chansons d'amour só soaria inédito para quem não tivesse visto antes O outro lado da cama (2002), de Emilio Martínez Lázaro, um dos filmes espanhóis de maior bilheteria, ou sua continuação, Los 2 lados de la cama (2005).

Na produção francesa, assim como nestes dois musicais sem grandes alardes cênicos, os personagens fazem sexo com a mesma alegria com que cantam, mas fica claro que são atores cantando, e não cantores atuando.

No entanto, a escolha do tema pode ter sido apenas coincidência, pois Honoré (1970), que disputa pela primeira vez a Palma de Ouro, afirmou desconhecer a obra de Lázaro.

"Não, não conheço esse filme. Saiu na França?", perguntou, ao ser questionado sobre o assunto na entrevista coletiva após a exibição do filme, que foi pouco aplaudido, levando-se em conta que o longa estava em terreno favorável.

"Há tempos que buscava a oportunidade de fazer uma comédia musical moderna e diferente", disse Honoré, que estava sentado ao lado do autor da trilha sonora, Alex Beaupain, e dos atores Chiara Mastroianni, Ludivine Sagnier, Clotilde Hesme, Grégoire Leprince-Ringuet e Louis Garrel.

Garrel, que foi alçado à fama em Os Sonhadores (2003), com Bernardo Bertolucci, já trabalhou com Honoré em Dans Paris (2002) e Ma mère (2003). Desta vez, o ator assume o posto de protagonista, se entregando a duetos e trios, tanto musicais como sexuais, e tenta tornar o personagem interessante, quase sempre em vão.

O eixo do filme, segundo Honoré - que se considera herdeiro da Nouvelle Vague -, é que "todos os personagens são muito românticos, mas, ao mesmo tempo, incapazes de expressar seus sentimentos, e, como na vida, às vezes é difícil se apaixonar".

Difícil também é se apaixonar pelo filme, pois a tentativa de misturar comédia e drama acaba fazendo com que o filme não enverede por nenhum destes dois gêneros.

Por motivos muito diferentes, também é difícil mergulhar no universo apresentado pelo russo Zvyagintsev em Izgnanie, que em inglês recebeu o nome The Banishment.

Com muitos cenários naturais e interiores belamente retratados pela fotografia de Mikhail Kritchman, a produção de longas duas horas e meia passeia pelos demônios que atormentam um homem (Konstantin Lavronenko) que vai, com sua mulher e seus dois filhos, morar na antiga casa familiar no campo.

O filme é formado por cenas desordenadas que, segundo o olhar de cada um, deveria permitir encontrar profundos significados religiosos e dimensões transcendentes da existência, como defendeu hoje o diretor da película.

Como pano de fundo há uma trama mínima que se alonga e dá sono, na opinião dos críticos, que brindaram o filme com um frio aplauso, que serviu para acordar boa parte da platéia.

Em todo caso, Zvyagintsev (Novosibirsk, 1964) fez um filme bastante obscuro de argumento e brilhante visualmente, o que pode pesar na hora da entrega dos prêmios, no dia 27, principalmente se for levado em conta que, com sua estréia, The Return (2003), ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Além disso, Kritchman, diretor de fotografia, que também trabalhou em The Return, capta alguns planos tecnicamente sombrios, capazes de prender a atenção, com tanta independência que como efeito narrativo podem ser perfeitamente desnecessários.

Outro ponto a favor da fita é a belíssima atuação de Maria Bonnevie, protagonista, cujo mérito aumenta devido ao fato de que, sendo norueguesa, constrói uma personagem russa.

"É uma atriz mágica, extraordinária", afirmou Zvyagintsev na entrevista coletiva após a exibição, acompanhado de Lavronenko e Bonnevie, a quem conheceu pelo seu trabalho no filme I am Dina (2001).

O diretor, confesso admirador de Andrei Tarkovski e Michelangelo Antonioni, alegou que a produção trata de uma dimensão transcendente da vida, "como um sonho, que, embora, seja trágico, tem que ser bonito", como as imagens do filme. O lado negativo é que a falta de ação e a longa duração do filme podem fazer com que os espectadores realmente acabem sonhando.

EFE
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