Cannes 2007

Sites relacionados

Cannes 2007

Sexta, 25 de maio de 2007, 16h21 

Filme brasileiro exibido em Cannes adapta universo de Guimarães

Busca
Saiba mais na Internet sobre:
Busque outras notícias no Terra:

A Quinzena de Diretores encerrou sua programação nesta sexta-feira com a exibição do filme brasileiro Mutum, de Sandra Kogut, uma excelente adaptação do universo de João Guimarães Rosa, retratado em seu romance Manuelzão e Minguilim.

» Veja a lista dos indicados!
» Assista a trailers inéditos!

Mutum é uma localidade do emblemático "sertão" mineiro, onde nasceu o escritor. As estradas são escassas, a luz, ocasional, e a terra, difícil de trabalhar.

Seus habitantes são gente forte, de poucas palavras, acostumada a conviver com a natureza, onipresente na vista e nos ouvidos.

Em Mutum vive Thiago, um menino de 10 anos, e sua família, composta de irmãos, um pai irascível e às vezes violento, uma mãe que agüenta tudo em silêncio e que tem uma queda pelo cunhado.

Thiago tampouco fala muito. Ele começa o dia na roça e depois trabalha como vaqueiro. Ele descobre, com assombro, que uns óculos emprestados podem mudar sua visão de mundo, quando aparece a chance de se mudar para a cidade.

Para preparar a hora e meia de puro cinema que oferece aos espectadores, Sandra Kogut passou um ano e meio no sertão de Minas Gerais, visitou escolas rurais, conheceu mil crianças, instalou oficinas onde jovens atores conviviam com a gente local.

Foi um ano e meio para depurar as filmagens, observar e também para parar de chamar a atenção, como fez Guimarães Rosa para escrever o livro, há meio século.

Um método de trabalho que tem muito a ver com a experiência como documentarista de Kogut, que também decidiu escrever uma primeira versão do roteiro com base em suas lembranças do livro, sem recorrer à leitura.

"O filme retoma uma parte dos personagens de Manuelzão e Minguilim, mas acho que fomos muito fiéis ao escritor na forma de chegar à região, de nos aproximarmos das pessoas, de procurar que outros personagens entrariam na história, e isso nos permitiu estar muito perto do livro", explicou a diretora.

"As filmagens foram muito intensas e tivemos todo tipo de dificuldade: filmamos externas, com crianças, com animais, e quis que o sítio existisse de verdade e funcionasse", lembrou.

Mutum é uma co-produção entre o Brasil (Tambellini Films) e a França (Gloria Films). Flavio Tambellini também inseriu na aventura dois velhos amigos, os irmãos João e Walter Salles.

"Sandra nos oferece personagens de uma força e integridade excepcionais que não existem no cinema brasileiro. O filme abre fronteiras muito importantes", disse Walter Salles, que acompanha a diretora em Cannes.

"Um dos milagres do filme é que não se chega a distinguir entre o que pertence ao mundo do documentário e ao mundo da ficção", continuou Salles, quase ao mesmo tempo em que Kogut completava, "documentário ou ficção, sempre há uma encenação, trata-se de um filme".

Salles comparou a forma de fazer cinema de Sandra Kogut com à do iraniano Abbas Kiarostami e do fotógrafo francês Cartier Bresson, que quando chegava a um lugar levava alguns dias antes de começar a fotografar.

Walter Salles deixou claro que sua intervenção artística no filme se limitou a dar sua opinião em alguns momentos das filmagens, a pedido da diretora.

"Walter está fazendo um trabalho muito importante para permitir a existência de certo tipo de cinema independente e autoral no Brasil", destacou Sandra Kogut, que espera lançar Mutum até o fim do ano.

AFP
Todos os direitos de reprodução e representação reservados. Clique aqui para limitações e restrições ao uso.