Thiago Kaczuroski
Dentro da programação do Festival de Cinema do Rio, um filme pode chocar a audiência ao mostrar cenas impactantes: Rinha, novo longa de ficção de Marcelo Galvão (do elogiado Quarta B), aborda a violência sem truques cinematográficos.
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O submundo das apostas em lutas é mostrado de forma crua nas telas: todos os confrontos do filme são reais, realizados por lutadores de MMA (Mixed Martial Arts - categoria na qual os atletas usam elementos de várias modalidades, conhecida também como vale-tudo).
Segundo o diretor, alguns atores ficaram chocados ao ver os lutadores se enfrentando de verdade. "Principalmente quando o Oswaldo Lot, lutador de vale-tudo entrou no 'ringue'. Ele ficou bem próximo do elenco. Quando chegou a hora dele brigar, e a luta foi bem pesada, muitos atores ficaram mal", lembra.
No longa, um grupo da alta sociedade paulistana promove uma festa, regada a drogas e sexo, onde acontecem cinco lutas dentro de uma piscina vazia. Sem luvas e sem regras, os lutadores se enfrentam até que um desista, estimulando altas apostas entre os endinheirados que se divertem ao ver os atletas trocando agressões como em uma rinha de animais.
O cineasta afirma que seu filme mostra o "outro lado": em vez da violência nas favelas, em Rinha a violência é tratada como espetáculo pela elite. "A diferença principal é que no meu, as brigas são reais. Não é filme de 'Van Damme', no qual o cara leva 20 socos na cara e levanta".
Apesar disso, Galvão não é contra a produção exagerada de filmes que retratam os problemas sociais em favelas brasileiras. "Não acho que o Brasil tenha ficado marcado no exterior por essa imagem de 'filme sobre a favela'. Podemos fazer quantos filmes de favela quisermos, desde que contem boas histórias. É um nicho, como filmes de máfia, por exemplo. Quantos filmes de máfia tem por aí? Só que os bons, que contam boas histórias, se destacam", reflete o diretor.
Rodado em São Paulo de forma independente, o longa é todo falado em inglês. Segundo o diretor, a intenção é abrir os caminhos do filme no mercado exterior.
"Acabei de voltar de Chicago e vi a diferença que fez ter realizado em inglês. Abre portas em lugares onde o mercado de lutas é grande, como o Japão, vários países na Europa e mesmo nos Estados Unidos", afirma o diretor.
Segundo ele, o dinheiro arrecadado com Rinha deve financiar seu projeto mais ousado: Colegas, um road movie com três garotos portadores de Síndrome de Down. Este filme, que está com o roteiro pronto, está tendo dificuldades para arrecadar recursos. "Muita gente já me disse: 'quem vai querer ver um filme sobre isso?'", conta o diretor.
Sobre a escolha de temas polêmicos em seus filmes, Galvão é taxativo: "faço para conseguir audiência. Preciso de um diferencial, que cause reflexão. Se eu fizesse um filme sobre uma festa qualquer, ninguém iria ver".
Seu longa anterior, Quarta B, mostra um grupo de pais que resolve usar drogas após descobrir que os filhos são usuários.
Rinha terá três exibições no Festival do Rio, nos dias 28 e 29 de setembro. Segundo Marcelo, o festival é "ótimo para dar visibilidade. Diversos filmes passaram pelo Rio e tiveram uma bela carreira no exterior".
O lançamento de Rinha em circuito comercial ainda depende dos parceiros que o filme vai reunir. Antes disso, Marcelo Galvão pretende exibir o longa em outros festivais nacionais e internacionais.
Redação Terra
Divulgação
Rinha é todo falado em inglês para atingir mercado internacional
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