Festival do Rio 2008

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Festival do Rio 2008

Segunda, 29 de setembro de 2008, 16h53 Atualizada às 16h50

"Personagens radicais são dever do ator", diz Daniel de Oliveira

Marcelo Lyra
Direto do Rio

A impressionante atuação de Daniel de Oliveira é o maior trunfo do filme A Festa da Menina Morta, que estreou no domingo no Festival de Cinema do Rio. Ele tem uma atuação visceral, completamente diferente do que o espectador acostumou-se a ver em suas atuações nas novelas da Globo.

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Santinho, seu personagem é uma espécie de guia espiritual do vilarejo onde vive, à beira do rio Amazonas. Ele tem visões e ouve falas da tal menina morta, considerada uma santa pelos moradores, e também de sua mãe.

Homossexual, ele é vítima de constantes abusos sexuais por parte do pai, interpretado por Jackson Antunes, que com mais este personagem, além do malvado Léo de A Favorita, já se tornou o vilão nacional do ano.

Após a concorrida sessão no Cine Palácio, Daniel atendeu com simpatia todos os fãs que pediam autógrafos ou que quisessem fotos a seu lado. E não deixou de dar atenção a jornalistas da televisão, jornais e sites. Também encontrou tempo para falar com exclusividade ao Terra sobre o trabalho. Confira:

Como foi a preparação para fazer um personagem tão diferente?
Foi um trabalho de entrega. Tive que subir o rio Negro, morar no lugar, conviver com as pessoas e descobrir o personagem lá no lugar. Na fase de preparação, tínhamos improvisos de até cinco horas dentro da casa do Santinho. Eram exercícios simulando o cotidiano das pessoas, desde fazer comida, até tomar banho na casa. Tudo para vivenciar o lugar, o cotidiano.

Você fez toda a preparação lá mesmo na Amazônia?
Não. Nós fomos para lá um mês antes da filmagem, para começar o trabalho de ambientação e descoberta desse personagem. Depois passamos um mês filmando. Mas antes disso, tivemos uma longa preparação... Foram muitas conversas com toda a equipe no apartamento do Matheus (Nachtergaele, diretor), aqui no Rio.

O Matheus fez questão de agradecer muito toda equipe...
É porque ele acredita que cinema é um trabalho de equipe. Como diretor, fez questão que toda a equipe participasse das conversas e da preparação inicial. Estavam lá desde o pessoal dos figurinos, do cenário, até o pessoal da fotografia. Ele queria que todo mundo estivesse no clima, com perfeito conhecimento da proposta dele, na hora de começar a filmar.

Como foi trabalhar com seu colega ator Matheus Nachtergaele, desta vez tendo que receber ordens dele?
Olha, eu acho que ele ser um diretor com muita experiência de ator era um elemento a mais. O personagem é muito difícil de compor e durante a preparação ele deu muitas dicas, conversamos muito antes. Já durante as filmagens, não. No set ele vinha falar só de pequenos detalhes. Na maioria das vezes a comunicação entre nós já era na base do olhar. Nós nos entendíamos muito bem.

Para quem conhece o Matheus, era visível que seu personagem era quase ele mesmo, tanto no carinho, quanto na fúria. Houve essa intenção, você o observou para compor?
Muita gente disse isso. Não sei se foi intencional. Acho que foi por osmose mesmo, de tanto que conversamos, e à medida que fui entendendo o que ele queria para o papel. Inconscientemente ou não, fui pegando coisas dele.

Quando ele começou a escrever o argumento, a idéia era ele mesmo fazer o papel. Ele conversou com você sobre isso?
Sim, com certeza. No começo ele queria dirigir e fazer o Santinho, mas acabou desistindo porque estava muito concentrado na direção e percebeu logo que seria muito difícil dirigir e atuar num papel como esse. Ainda bem que ele tomou essa decisão, pois assim eu pude fazer esse personagem, que achei maravilhoso.

O personagem é muito radical, obsessivo, visceral, que vai do amor ao ódio em segundos, é vítima de violência sexual. Você, como ator da Globo, com fã-clubes e tudo, não temeu por sua imagem?
Nessas horas você não pode pensar em nada. Claro que dá um certo medo. Cinema é uma coisa que fica para sempre. Meu filho um dia vai crescer e assistir, meu neto vai assistir. Mas personagens assim são quase uma obrigação para o ator. É um dever, uma forma de justificar sua carreira para si mesmo.

Especial para Terra

André Muzell/Photo Rio News
Daniel de Oliveira é protagonista de 'A Festa da Menina Morta'
Daniel de Oliveira é protagonista de 'A Festa da Menina Morta'

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