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Cinema

 
 

Berlim aplaude personagem de Walter Salles

06 de fevereiro de 2004 16h51

Cena do filme  Diários de Motocicleta. Foto: FilmFour/Divulgação

Cena do filme Diários de Motocicleta
Foto: FilmFour/Divulgação

Alberto Granado, o companheiro de juventude de Ernesto Che Guevara numa viagem de moto pela América do Sul, recebeu nesta sexta-feira (06), uma calorosa salva de palmas no Festival de Berlim, onde foi prestigiar a apresentação de um documentário sobre as filmagens do novo filme de Walter Salles, Diários de Motocicleta.

Travelling with Che Guevara documenta as impressões de Granado durante as filmagens do longa-metragem de ficção do brasileiro em 2002, quando tinha 81 anos e acompanhou a equipe de rodagem.

Triplo co-protagonista da viagem pelo continente sul-americano - da real e das duas mostradas nos filmes citados -, Granado causou frisson em sua chegada ao Festival, uma autêntica surpresa, pois Travelling with Che Guevara não estava no programa e foi incluído na seção "Panorama", não competitiva, na última hora.

Diários de Motocicleta teria sido o complemento ideal do documentário em Berlim, mas o Festival não conseguiu incluí-lo na progrmação.

Em 1952, o líder revolucionário argentino-cubano, então com 23 anos, fez uma viagem de moto por Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela em companhia de Granado, biólogo argentino seis anos mais velho que Che.

"Apesar de vários anos de idade nos separarem, concordávamos muito em tudo de que gostávamos e não gostávamos", explicou Granado após a primeira exibição do filme em Berlim.

O hoje já velho companheiro de Che contou que "a família de Guevara" o culpou pelo fato de "seu filho ter ido viajar em vez de se formar em medicina, se casar e formar uma família".

Sobre a viagem por vários países, Granado também disse: "foi um passo incerto rumo ao futuro que nos serviu para descobrir a América Latina".

O amigo de Che contou ainda que, depois da aventura, ambos fizeram "um pacto que se cumpriu pela metade": "eu tinha o compromisso com a mãe de Ernesto de o levar de volta a Buenos Aires para que terminasse a carreira de médico", explicou.

Granado foi a Berlim acompanhado de Ernesto Guevara, filho de Che, cuja presença no Festival não fez mais que aumentar o interesse pelo filme.

"Che teve muitos filhos espirituais, que são mais importantes que os biológicos", disse Guevara, quando lhe perguntaram como se sente tendo um pai tão famoso.

A respeito do documentário e do filme de ficção, o filho do revolucionário assegurou que eles "despertam muitas emoções em mim, já que se aproximam muito do que eu pensava que tinha sido essa viagem".

A produção do documentário só foi possível, em parte, graças à mediação do ator e diretor americano Robert Redford, criador do festival de cinema independente de Sundance (EUA), em cuja última edição o file foi lançado.

No entanto, esta é a primeira vez que o público tem a oportunidade de ver em carne e osso Alberto Granado, já que na ocasião do lançamento, por morar em Cuba, ele não conseguiu obter um visto para entrar nos EUA.

"É muito fácil dizer que a culpa foi do imperialismo", brincou hoje Granado, que reconheceu, no entanto, que "sentiu muito não poder ter estado com meus amigos na ocasião", em referência ao diretor Walter Salles e aos atores Gael Garcia Bernal - que interpretou Che - e Rodrigo de la Serna, que o encarnou.

O diretor do documentário, o italiano Gianni Mina, lembrou hoje que o filme recebeu ovações de 15 minutos em suas quatro exibições em Sundance, onde o público incluiu até o ex-candidato à presidência dos EUA Al Gore e vários senadores democratas.

"O filme será visto na América de Bush, porque a idéia do Che é universal", disse hoje Mina, com um certo orgulho nada dissimulado.

EFE
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