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Cinema

 
 

Perfeccionista e visionário, Kubrick faria 80 anos

26 de julho de 2008 07h36 atualizado às 18h39

Cineasta morreu em março de 1999, aos 70 anos. Foto: Reprodução

Cineasta morreu em março de 1999, aos 70 anos
Foto: Reprodução

Perfeccionista, enigmático, controlador, visionário: os adjetivos são insuficientes para definir a importância do cineasta norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999), que completaria 80 anos neste sábado. Como nenhum outro diretor de sua época, Kubrick gozou de irrefreada liberdade criativa, destrinchou todos os aspectos da técnica cinematográfica - popularizando novas tecnologias e esgotando seu potencial artístico - e transitou pelos mais variados gêneros da sétima arte (horror, ficção científica, épico, filme de guerra, policial etc.). Respeitado (e imitado) pelos colegas, cultuado pelo público e louvado pelos críticos, Kubrick é visto por muitos como o mais influente cineasta da segunda metade do século XX.

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As imagens criadas por Kubrick estão entre as mais marcantes da história do cinema. A montagem, a simetria nas composições, a precisão nos movimentos de câmera, o uso da música e das cores renderam cenas inesquecíveis, como o osso pré-histórico jogado ao ar que "vira" uma nave espacial em 2001, Uma Odisséia no Espaço, os interiores iluminados a vela em Barry Lyndon, a Sala de Guerra e a mão assassina do cientista em Dr. Fantástico, o "tratamento Ludovico" e os espancamentos coreografados de Laranja Mecânica, a onda de sangue jorrando do elevador em O Iluminado e muitas outras.

Percorrendo diversos gêneros do cinema, os filmes de Kubrick demonstram uma obsessão com a moral do homem e sua luta com a natureza e com seus instintos autodestrutivos, além do caráter dual existente na tecnologia: bela, fascinante e mortífera ao mesmo tempo, uma criação do ser humano pela qual ele atinge feitos e distâncias inimagináveis, mas que também representa sua própria perdição e aniquilação.

O perfeccionismo talvez tenha sido a grande marca da obra de Kubrick - assim como sua maldição. Cada plano era meticulosamente planejado e repetido à exaustão, se necessário. Todos os detalhes da produção eram controlados obsessivamente pelo cineasta, que não aceitava nada menos que a perfeição (um técnico que trabalhou em 2001, por exemplo, foi visto às lagrimas após o "chefe" ter reprovado uma maquete sua, após semanas de trabalho). A curiosidade de Kubrick e seu fascínio com a tecnologia faziam com que o diretor permanecesse sempre atualizado, aprendendo novos "truques" e conhecendo novos "brinquedos". Seu domínio das técnicas do cinema era quase total: ele mesmo freqüentemente operava a câmera durante as filmagens.

Se, por um lado, o resultado final deste trabalho meticuloso deixava o público e a crítica extasiados, o processo de produção dos filmes se tornava cada vez mais demorado. Na metade final da carreira de Kubrick, esta lentidão se refletia no intervalo entre um filme e outro - 5, 10, 12 anos. Segundo Christiane Kubrick, mulher do cineasta por mais de quatro décadas, ele se ressentia por ter feito poucos longas (13, ao total), mas também aceitava o fato de que seu ritmo de trabalho era mais vagaroso.

Em um meio ligado à obsessão pelas celebridades e pela investigação da vida alheia, a intimidade de Kubrick foi praticamente um mistério durante sua vida. Isolado em sua propriedade no interior da Inglaterra, o cineasta criou um universo próprio no qual morou por mais de 30 anos com Christiane, sua terceira mulher, e onde criou suas três filhas. Embora mantivesse contato constante com amigos, colegas e familiares, Kubrick raramente dava entrevistas, o que só fazia aumentar os rumores sobre sua excentricidade. Dele, se dizia que era um ermitão lunático e neurótico, que tinha medo de aviões e de carros. No entanto, após sua morte, Christiane e suas filhas puderam vir a público para rechaçar (em parte, ao menos) muitas das alegações.

Quase dez anos depois de sua morte, Stanley Kubrick deixa um legado que ainda fascina diferentes gerações de cinéfilos e cineastas pelo mundo. Sua influência é notada no trabalho de cineastas como Steven Spielberg, Ridley Scott, Quentin Tarantino, Robert Zemeckis e Martin Scorsese, enquanto seus filmes são objeto de incontáveis livros, estudos acadêmicos, ensaios e revisões críticas. Cada retrospectiva de seus filmes continua atraindo espectadores interessados em uma obra que oferece riqueza de elementos, a possibilidade de releituras constantes ou meramente o prazer de um espetáculo único e inimitável.

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