Almodóvar posa com o elenco de A Má Educação em Cannes
Foto: Reuters
Os organizadores de Cannes costumam inaugurar o festival com algo que agrade ao público, antes de passar para os trabalhos de arte mais pesados que fazem de Cannes um paraíso para cineastas intelectuais.
"A razão do título é que a educação que eu e muitos espanhóis de minha geração recebemos foi baseada no medo do castigo e da culpa", disse Almodóvar em coletiva de imprensa.
A história sobre dois amigos de infância acontece entre os anos 1960, quando o ditador Francisco Franco governava a Espanha com mão de ferro, e a efervescente década de 1980, quando a juventude explorava as drogas e a vida noturna.
Almodóvar se inspirou em clássicos do cinema noir, como Pacto de Sangue, de Billy Wilder, para construir uma narrativa labiríntica na qual a "mulher fatal" é um homem - uma virada típica do diretor subversivo.
Embora o filme não seja autobiográfico, estritamente falando, lida com temas familiares a Almodóvar, que estudou em colégios de padres católicos e, mais tarde, virou figura central na cultura jovem da Madri dos anos 1980.
O diretor disse que não sofreu abusos sexuais quando criança, mas que conheceu pessoas que sofreram. Entretanto, negou que A Má Educação represente um acerto de contas com a Igreja Católica.
"Não o considero um filme anticlerical. Acho que nem sequer existe qualquer necessidade de ser anticlerical", comentou Almodóvar, que se descreve como agnóstico.
"Na Espanha, pelo menos, o pior inimigo da Igreja é a própria Igreja."
Aos 52 anos, o diretor confessa que se sente atraído por materiais cada vez mais sombrios, muito distantes da excentricidade technicolor de seu clássico de 1987 Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
Apesar disso, ele criou um papel maravilhoso para o astro mexicano em ascensão Gael Garcia Bernal, que representa o sedutor mas psicopata Ignácio e seu alter ego, o travesti Zahara.
Bernal também faz o papel do revolucionário Che Guevara em Diários de Motocicleta, um dos 18 filmes que concorrem à Palma de Ouro de melhor filme em Cannes este ano.
Ele encara com prazer um papel que poderia ter desanimado outros atores jovens interessados em proteger sua reputação junto ao público do grande cinema comercial. Bernal disse que seu maior desafio foi andar de salto plataforma.
"Muitas pessoas me ensinaram. Foram muito generosas, compartilhando comigo dicas e experiências pessoais, principalmente o tipo de coisas que ninguém publica nas revistas de beleza, tipo como andar de salto alto", ele falou, sorrindo. "Você acaba se acostumando."
- Reuters - Reuters Limited - todos os direitos reservados. Clique aqui para limitações e restrições ao uso.