Alberto Granado, Walter Salles e Gael García
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O diretor brasileiro disse que esperava abrir um debate na América Latina com Diários de Motocicleta, filme que levou cinco anos para ficar pronto.
"Nós vivemos o filme coletivamente, não se pode conjugar na primeira pessoa do singular", ressaltou o cineasta, que deu ao mexicano Gael García Bernal o papel do jovem Ernesto Guevara, o futuro "Che".
"Os atores se prepararam muito para mergulhar no mundo daquele estudante de medicina que, em 1952, aos 23 anos, lançou-se a conhecer o mundo em uma moto com um amigo de 29 anos, já bioquímico, Alberto Granado".
Como Walter Salles, que fez duas vezes a mesma viagem para preparar as gravações, García Bernal disse ter em sua vida um antes e um depois, ao haver cruzado uma barreira interior com este trabalho, iniciado com muito medo.
"O medo era um termômetro que nos fazia realizar as coisas bem ou, pelo menos, de querer nos aproximar um pouquinho de fazê-las bem", disse. Depois, "começamos a confiar no que estávamos fazendo ao ponto de nossa experiência começar a ser tão importante como a deles quando fizeram a viagem".
A preparação foi muito diversa, com viagens para Cuba, Argentina, muitas leituras e conversas com gente que conheceu Guevara, e também Granado, interpretado por Rodrigo de la Serna.
"Fizemos seminários de política para entendermos o contexto político e social que a América Latina estava vivendo naquele momento. Andamos de moto três vezes por semana, comemos bem", acrescentou.
"A verdade é que tínhamos de esperar que algum dia chegaríamos a nos ver repletos de toda essa informação para empreender a viagem e poder atuar conforme as situações que surgissem e conforme os personagens", disse García Bernal.
Apesar de tudo, "eu não senti que cheguei preparado para o filme e, quando começou, estava aterrorizando, achando que não estávamos fazendo as coisas bem". "E me dei conta que apenas se podia preparar 30%, o resto é a experiência, a vivência. Por isso decidiu compartilhar essa viagem e confiá-la a essa transparência" e as "coisas começaram a funcionar".
Diante da imprensa internacional, o Alberto Granado original comemorou o fato de o filme ter caído nas mãos de Walter Salles, para ele um grande diretor, e de "dois grandes atores".
"Juntaram-se três pessoas com uma sensibilidade que lhes permitia ver as coisas com os olhos com que as víamos há 50 anos", declarou. "Souberam interpretar esse amor para a humanidade que nós fomos descobrindo à medida que íamos ficando velhos".
Walter Salles disse esperar que "o filme lance um debate, pouco importa qual, e, o mais importante, que as pessoas voltem à leitura, que possam ler o diário de viagem que originou o filme".
Desde a primeira busca de cenários, eles descobriram que o que contavam os dois livros de viagens em que se inspira o filme, o de Ernesto Guevara e o de Alberto Granado, "pareciam descrever a América Latina de hoje".
O que "não é difícil de compreender, porque seus problemas estruturais continuam presentes", acrescentou.
"Esses dois diários de viagens são tão importantes ainda hoje na América Latina porque nos permitem olhar em uma direção na qual ainda hoje não se olha suficientemente", destacou o cineasta.
"Não tivemos a intenção de fazer um filme histórico. Este filme não se conjugava no passado, mas talvez no presente, e foi feito com um sentimento de urgência, como um convite a desvelar este continente, uma realidade que não conhecíamos verdadeiramente".
A vida de Ernesto Guevara "é tão extraordinariamente complexa que não pode ser contada em 10 filmes (...) Esta viagem inicial, de busca de identidade, de busca da 'latino-americaneidade', nos parecia um filme possível e demoramos cinco anos para alcançá-lo", lembrou.
"Com todas as pessoas existia uma urgência de contar as coisas", de estar no deserto, na neve, no rio, em condições extremas, "era algo necessário", disse García Bernal.
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