O diretor Walter Salles
Foto: Reinaldo Marques/Terra
"Antes eu me sentia distante daquilo que é ser latino-americano. Entendia isso intelectualmente, mas não emocionalmente", disse Salles à Reuters recentemente, em um hotel de São Paulo.
O filme, que estréia nesta sexta-feira, traz Ernesto Guevara de la Serna aos 23 anos, em 1952, partindo para uma viagem com seu amigo Alberto Granado, um jovem bioquímico de 29 anos, por vários países latino-americanos, começando pelo cone sul.
O projeto levou cinco anos para ficar pronto, entre pesquisas, viagens e entrevistas com a família Guevara e com o próprio Granado, hoje com 82 anos. O filme é baseado nos livros De Moto pela América do Sul, de Guevara, e Con El Che por Sudamérica, de Granado.
"Só visitando e atravessando esses países um a um que você entende verdadeiramente da onde é que você vem. Foi uma viagem iniciática para todo mundo (que participou no filme)", continuou Salles. "A minha casa alargou, ficou maior."
O diretor veio a São Paulo junto com Alberto Granado, além dos atores Gael García Bernal (que interpreta Ernesto) e Rodrigo de la Serna (que faz o papel de Alberto). Rodrigo, aliás, é primo de segundo grau do próprio Che.
"Salles e os dois atores entraram com profundidade no espírito dos diários tanto como eu e Ernesto. Era o espírito da aventura, do descobrimento", disse Alberto Granado a jornalistas.
Ernesto antes de virar Che
A viagem começa como uma aventura, mas se transforma completamente conforme os dois jovens vão se deparando com a realidade social e econômica dos países visitados. Foram mais de 30 locações de filmagens, entre Argentina, Chile e Peru.
Nesse momento, o filme chega a deixar a ficção de lado para investir em um tom mais documental. Os atores usam da improvisação para conversar com alguns trabalhadores que eles cruzam pelo caminho.
A viagem dura oito meses e tem como ápice a chegada ao Leprosário de San Pablo, na Amazônia peruana, onde os dois trabalham por três semanas.
É aqui, no discurso de despedida no qual Ernesto fala da importância da união da América Latina, um dos pontos mais fortes a dar ao espectador um vislumbre do que seria o futuro deste jovem.
Três anos depois, ele conheceria Fidel Castro e, mais quatro anos, junto a Fidel, liderariam a Revolução Cubana.
Salles diz que não queria nem mistificar, nem desmistificar a imagem de Che. "A idéia é que esse filme fizesse com que as pessoas se interessassem não pela camiseta (do Che), pelo objeto de consumo, e sim pelo o que esse cara dizia, pensava", disse o diretor.
"Com isso, acho que a gente vai ter concluído uma pequena missão que é a de aproximar esse personagem das pessoas."
Diários de Motocicleta, financiado na Grã-Bretanha e França, participou do Festival de Sundance deste ano e concorre à Palma de Ouro em Cannes este mês.
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