65º Festival de Veneza

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65º Festival de Veneza

Sábado, 6 de setembro de 2008, 18h21 Atualizada às 18h42

Premiação em Veneza foi diplomática, embora equilibrada

Orlando Margarido
Direto de Veneza

O caminho escolhido pelo júri principal da Mostra de Veneza foi aquele afinado com a vocação diplomática e política que se via desde o início na seleção para a disputa do Leão de Ouro.

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Essa noção foi se expondo aos poucos, pelas beiradas, conforme eram revelados os prêmios menores da festa, a exemplo do prêmio Osella de melhor roteiro entregue a Teza, cujo diretor Haile Gerima também é responsável pela história. A fita etíope ganharia mais um troféu, dessa vez importante, o Prêmio Especial do Júri.

É muita atenção e nenhuma coincidência que seja uma fita que trata da desastrosa invasão da Etiópia pela Itália na chamada guerra da Abissínia, ferida que até hoje incomodas os italianos. Veneza fez assim mais uma tentativa de sanar essa mea culpa.

Nenhum problema, não fosse estar em questão em um festival de cinema a qualidade de um filme, o que Teza, com seu formato tosco e narrativa quadrada e repetitiva, está longe de representar

Da mesmo forma, pode-se justificar a premiação do Leão de Ouro, digna e merecida, mas em estrita ligação com a Copa Volpi de melhor ator. Se The Wrestler é um belo filme de Aranofsky, isso se deve não apenas ao cineasta que parecia ter perdido a mão de forma irreversível em Fonte da Vida ¿ melhor que isso não tenha se concretizado ¿ mas sim ao seu protagonista Mickey Rourke.

Evidente que o Leão de Ouro é, nesse sentido, um reconhecimento do trabalho de recuperação de uma carreira de intérprete que parecia irremediavelmente perdida. Mas estamos na Itália e uma premiação em Veneza sem uma presença digna italiana parece sempre incomodar o país. E lá foi Silvio Orlando receber seu troféu por Il Papà di Giovanna.

Na coletiva de imprensa após a premiação, Wim Wenders, presidente do júri achou por bem explicar o que acreditou ser uma questão que passa pela cabeça de todos. "Não é verdade o que eu estou ouvindo que o Leão de Ouro foi dado a The Wrestler como uma forma de reconhecer Rourke", disse.

"Claro que o trabalho dele é maravilhoso, mas temos que fazer uma escolha e esta é pela importância e valor de um filme, que o de Aronofsky tem de sobra; e também pela genialidade de um ator, que Silvio Orlando deixa claro".

Mas se o alemão Wenders condena qualquer relação política ou politicamente correta com os prêmios, também não justifica o prêmio de carreira para Werner Schroeter, em um momento em que este apresentou um dos piores filmes da seleção, e afinal um conterrâneo seu.

Pela baixa qualidade da seleção deste ano, a premiação poderia ter sido pior, sem dúvida. Justo o reconhecimento de Dominique Blanc como melhor atriz e digna a escolha do diretor Aleksey German Jr, pois se há alguma força de resistência que Paper Soldier tem, além de um bom elenco, é mesmo a direção.

Não houve, assim, nenhum passo arriscado do júri, o que era temerário em um programa com filmes ruins. Nesse sentido, a semente da discórdia que o título do filme de Pappi Corsicato - uma participação constrangedora que a história do festival dificilmente esquecerá - parecia trazer como uma sombra à edição de número 65 não aflorou. Em vez disso, prosperou um senso de equilíbrio dentro do nível fraco apresentado pela mostra.

Especial para Terra

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