Veneza 2007


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Quinta, 6 de setembro de 2007, 13h22  Atualizada às 13h46

Itália decepciona com filmes banais sobre máfia e corrupção

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O cinema italiano decepcionou na 64º edição da Mostra de Veneza com a exibição de dois filmes banais sobre máfia, corrupção e ambição nesta quinta-feira, dia marcado pela morte do tenor italiano Luciano Pavarotti, que foi reverenciado pelos organizadores e participantes do evento.

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"A Bienal de Veneza recebeu com pesar a notícia da morte de Luciano Pavarotti e expressa seus pêsames por uma perda tão grave para a música e, em geral, para a cultura do país, algo de que Pavarotti foi um representante extraordinário", declarou em nota oficial Davide Croff, presidente da Mostra.

A cinematografia italiana foi apresentada nesta quarta e quinta-feira na Mostra, que compete com três filmes na seção oficial assinados por diretores relativamente jovens. Duas das obras foram Il dolce e l'amaro, de Andrea Porporato, sobre a vida de um mafioso anônimo, e L'ora di punta, de Vicenzo Marra, a história de um policial ambicioso e corrupto, que tem no elenco a atriz Fanny Ardant, cujas recentes declarações sobre as Brigadas Vermelhas causaram polêmica na Itália.

Os dois filmes, que denunciam a decadência moral da sociedade italiana, foram recebidos friamente pelos críticos exigentes que os taxaram de pouco eficazes para ilustrar os dois graves fenômenos que afetam à sociedade italiana.

Retratar a máfia do ponto de vista de um de seus membros mais anônimos e menos heróicos, "um mafioso muito pequeno" - como definiu o protagonista de Il dolce e l'amaro, o ator Luigi Lo Cascio que vive Saro - "pode ser original, mas não é suficiente para fazer um filme bonito", escreveu o jornal La Repubblica.

Sem uma visão mítica da máfia, como o filme revela aos poucos, a organização criminosa se transforma em um bando cruel formado por chefões ignorantes, bonachões, dispostos sempre a trair, que matam crianças e selam seus acordos com molho de tomate.

Se para alguns críticos o filme é "fraco", como escreveu o Il Corriere della Sera, para o procurador nacional antimáfia, Piero Grasso, a obra é "altamente educativa e deveria ser projetada nas escolas".

A história de Saro, que sofre na própria carne as atrocidades da máfia e quem, depois de passar pela cadeia e se sujar de sangue, tom consciência e nega a máfia graças ao amor de uma mulher e de um juiz, oferece uma visão "agridoce" da Itália de hoje em dia.

Igualmente doce e também amargo é a corrida do agente da polícia tributária Filippo Costa (o ator Michele Lastella), em L'ora di punta, de Marra.

O jovem corrupto com uma ambição desmedida, que não se detém por nada para escalar na vida social, chega a seduzir uma senhora madura, a refinada atriz Fanny Ardant, para alcançar seus objetivos e se introduzir nas altas esferas da burguesia nacional.

"A personagem do meu filme é um representante clássico da sociedade ocidental: ávido por poder, com o desejo absoluto de ascender socialmente e dominado pela síndrome típica do nosso tempo: considerar como uma condenação a vida no anonimato", afirmou o diretor Vincenzo Marra.

O filme foi ligeiramente vaiado durante a apresentação à imprensa e para alguns espectadores as recentes notícias na Itália superam amplamente a ficção narrada por Marra.

"Escrevi o roteiro há três anos. Mas os fatos ocorridos depois na vida real superaram a minha imaginação", reconheceu o cineasta, ao se referir a dois rapazes de famílias pobres que em poucos anos chegaram a acumular uma fortuna a ponto de quase terem comprado o maior e mais influente jornal da Itália, o Il Corriere della Sera.

O terceiro filme italiano na competição, Nessuna qualita agli eroi, de Paolo Franchi, deixou também um sabor azedo entre os espectadores ao narrar um drama mais íntimo: a loucura, o sexo e o desejo de matar o pai.

Para muitos observadores, o cinema italiano, apesar de uma produção média de mais de 100 filmes por ano, atravessa um momento de crise, por ausência de argumentos convincentes e autores criativos, problema que tem gerado debates e conferências, inclusive na Mostra de Veneza.

AFP
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