Orlando Margarido
Direto de São Paulo
Talvez o ator Pedro Cardoso não tenha visto Canção de Baal, que tem sessão ainda nesta quarta-feira às 21h30 (Sala Cinemateca) e na quinta às 14h (Unibanco Arteplex 4) antes de tornar público seu manifesto anti-nudez. Se visse, poderia citá-lo que no filme dirigido pela atriz e musa Helena Ignez a nudez feminina está a serviço da arte.
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Mas aí talvez fosse uma consideração pobre, porque mais do que "artístico", o nu exemplifica a anarquia, como todos os demais elementos dessa adaptação livre e personalíssima da peça de Bertolt Brecht. Estar nu, para a diretora, não é necessariamente tirar a roupa, e sim despir personagens e autor de uma casca de formalidade e reverência. E isso ela prova com as palavras originais de Brecht frente à comissão de atividades anti-americanas no auge do machartismo.
A estréia na direção da viúva do cineasta Rogério Sganzerla flerta não só com a liberdade e a vocação experimental do marido, mas de toda uma geração do cinema brasileiro preocupada em sacudir os costumes vigentes. Há muito da radicalidade dos anos 60 na história do músico Baal (o sempre irreverente Carlos Careqa) e sua figura dominadora e sedutora que toma conta de uma pequena comunidade na qual é convidado a permanecer.
Mas importa menos aqui o fiapo de trama e sim uma visão de celebração de vida - derivada em muito do teatro, linguagem a qual Helena está mais ligada atualmente - e da arte que não se testemunha mais no cinema nacional. Por isso mesmo, o filme não tem um lugar fácil nos gêneros catalogados da produção atual.
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