32ª Mostra Internacional de SP

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32ª Mostra Internacional de SP

Quinta, 23 de outubro de 2008, 10h31

Programação desta 5ª tem Catherine Deneuve e estreante brasileiro

Orlando Margarido
Direto de São Paulo

Há uma cena tão tensa quanto intrigante em Eu Quero Ver, filme de Khalil Joreige e Joana Hadjithomas que tem sua primeira exibição hoje, às 19h20, na Cinemateca. Conduzido por um libanês, ao mesmo tempo anfitrião e motorista, o carro em que a atriz Catherine Deneuve circula por uma Beirute de escombros entra por uma estradinha de terra.

De repente, ouve-se os integrantes da equipe de filmagem gritarem para que o veículo pare, o que não acontece de imediato e os obriga a caminhar cautelosamente até ele.

Fica-se sabendo, então, que o terreno do local está minado e só depois dessa notícia é que La Deneuve, até então impassível, demonstra o medo no rosto. É um dos muitos momentos em que a fita impõe ao espectador um cruzamento entre ficção e realidade.

Esse projeto de caráter documental abriu a mostra "Un Certain Regard", no Festival de Cannes de 2008, onde a atriz foi homenageada ¿ estava nas telas também no filme de Arnaud Desplechin, Um Conto de Natal, escalado para a 32ª Mostra. Mas foi em Paris que o Terra conversou com o diretor Khalil Joreige após a exibição da fita numa tradicional seleção da paralela que acontece todos os anos.

Joreige preferiu manter o mistério, mas deu uma pista de que a atriz francesa sabia de tudo que a esperava na capital libanesa destruída pelos bombardeios israelenses.

O filme é sobre o desejo dos diretores de discutir sobre essa guerra e a vontade de Deneuve, interpretando a si própria, de conhecer de perto o resultado da tragédia, conforme anuncia logo no início.

Sua única segurança parece ser o simpático motorista, que se revela também um fã ao lembrar de A Bela da Tarde, o clássico de Luis Buñuel que celebrou mundialmente a atriz.

Ele tenta descobrir onde ficava sua casa, também destruída, e a presença da atriz mexe com as pessoas da comunidade, ao mesmo tempo em que é graças a ela que a produção consegue filmar em locais proibidos pelo exército de Israel.

A cumplicidade conquistada entre a convidada e seu anfitrião será mais tarde demonstrada numa cena delicada, de troca de olhar entre os dois, quando a atriz está envolvida num daqueles eventos protocolares de gala, ou seja, quando a fantasia já a apartou da dura realidade lá fora.

É também sobre o olhar e seus perigos que incide o filme do jovem estreante brasileiro Antonio Campos, Depois da Escola, também exibido no último Festival de Cannes, com boa acolhida da crítica. Não por acaso, o diretor Michael Moore estava na platéia, já que a fita flerta diretamente com o território temático de Tiros em Columbine, assim como de Elefante, de Gus Van Sant.

Campos, filho do jornalista Lucas Mendes e radicado em Nova York, adota a ficção, embora com sólido respaldo na realidade. A ligação com fatos do noticiário norte-americano vem à tona quando o retraído adolescente Robert (Ezra Miller) é incumbido de realizar um vídeo como trabalho de escola e acaba por testemunhar a morte por overdose das gêmeas mais populares do local.

A partir daí, confrontado com os elementos que conhece previamente da história e com as crises e anseios da idade, ele passa a elaborar sua própria visão dos fatos, ao mesmo tempo em que se torna refém deles.

Embora menos cuidadoso quando lança seu olhar para os adultos envolvidos, com uma conotação um tanto tipificada, é no confronto do universo central, ou seja, da adolescência, que o filme mostra força e aponta para um futuro promissor do cineasta.

Redação Terra

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