32ª Mostra Internacional de SP

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32ª Mostra Internacional de SP

Quinta, 23 de outubro de 2008, 16h53

Como cinéfilo, Bruno Barreto quer se emocionar

Orlando Margarido
Direto de São Paulo

Às vésperas de lançar Última Parada 174 nos cinemas, o diretor Bruno Barreto diz que a primeira qualidade que procura num filme é sua capacidade de emocionar. "Não como cineasta, mas como pessoa eu valorizo a emoção, aquele sentimento que toma conta e segue com o espectador mesmo depois de sair da sala de cinema", explica.

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Barreto participou no final da manhã desta quinta-feira do projeto Os Filmes da Minha Vida, iniciativa da 32ª Mostra de Cinema em que convidados como cineastas e críticos conversam com o público sobre os títulos que lhes são mais marcantes.

A lista de seis produções escolhidas pelo cineasta trafega num período dos anos 50, representado por Vidas Amargas, de Elia Kazan, diretor de origem turca que se estabeleceu em Hollywood, até o início dos anos 80, quando desponta para ele A Mulher do Lado, do francês François Truffaut.

"Não fiz a seleção em ordem cronológica ou de preferência", explicou. "Fui me lembrando do impacto que esses filmes tiveram sobre mim, especialmente os que vi com pouca idade, treze ou catorze anos".

Barreto era um pouco mais velho quando assistiu, na França, a O Último Tango em Paris, o filme de Bernardo Bertolucci de 1972 que abriu o depoimento e foi claramente defendido com mais entusiasmo.

"Há muitas razões para eu gostar do filme; por exemplo, a questão do sexo como compensação da perda; mas a fita tem algo fundamental para mim que é uma integração, uma coreografia entre forma e conteúdo, entre a estética escolhida e a história que se vai contar".

Um outro Bertolucci, 1900, realizado quatro anos depois, também mobiliza o cineasta. "É um épico intimista, grandioso porque vai ao coração dos personagens".

A emoção volta quando ele se declara um romântico - daí A Mulher do Lado - e um entusiasta da visão humanista que encontra em Vidas Amargas e Vidas Secas (1963), este um dos triunfos do Cinema Novo de Nelson Pereira dos Santos.

Barreto lembrou ainda a conotação "perversa, levada e desaforada" que saiu do livro e ganhou as telas por Joaquim Pedro de Andrade em Macunaíma (1969).

"Assisti àquela alegoria, àquela sátira que nunca cai no maniqueísmo com um tesão louco por Dina Sfat", disse, referindo-se à atriz que quatro anos depois protagonizaria Tati, a Garota, primeiro longa do cineasta.

No depoimento, Barreto tentou aproximar sua paixão pelo cinema de cineastas talentosos como Martin Scorsese. "Seus filmes são magníficos, mas não me emocionam".

A preferência pelo elemento emotivo é sintomática do resultado que se pode conferir a partir desta sexta-feira em Última Parada 174. Barreto já comentou em diversas entrevistas que houve momentos de forte emoção no set de filmagens e espera que ela se revele também ao espectador.

A emoção, mais uma vez, pode justificar em boa parte a decisão do diretor de retomar uma passagem já tão explorada pela mídia e mesmo um documentário - Ônibus 174, de José Padilha - e dar-lhe uma dimensão ao mesmo tempo romanceada e de entendimento palatável para o grande público.

Afinal, a tragédia de Sandro do Nascimento, por Barreto, tem começo, meio e fim. Se a platéia dominava até então apenas o fim, especialmente aquela que passou ao largo do documentário, e guardou somente as notícias ao vivo do jovem que seqüestrou um ônibus no Rio de Janeiro, em 2000, a fita viria desse modo como um complemento à condição tortuosa da vida do personagem. Realiza, assim, um chamado ao espectador que não se deteve no passado de Sandro e agora pode julgar por si só suas razões - com ou sem emoção.

Especial para Terra

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