Orlando Margarido
Direto de São Paulo
Depois de Brand Upon the Brain!, filme-projeto mudo de inspiração pessoal exibido na Mostra do ano passado com acompanhamento instrumental e vozes ao vivo, o diretor Guy Maddin volta com um título que mistura documentário e dramatização assumidamente autobiográfico. Em Meu Winnipeg, nome da cidade no Canadá onde o cineasta nasceu e mora até hoje, Maddin faz um retrato da família e da comunidade à sua maneira, ou seja, satírica, fantasiosa, imaginativa e quem sabe, quase toda enganadora.
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Maddin criou um universo todo seu para explorar no cinema, onde cabe um estilo barroco, retrô, sofisticado e muitas vezes melodramático e exagerado na composição. É, portanto, um gênero próprio no qual o espectador participa por completo ou fica de fora. Quem aceitar o convite terá por certo uma aventura única, como esta que o próprio Maddin narra a partir de uma viagem de trem que nunca termina - entre muitas outras peculiaridades Winnipeg é um entroncamento ferroviário importante.
Ao justificar sua permanência em Winnipeg, "cidade triste, de arquitetura feia", Maddin declara que nunca quis deixá-la, mas a cidade sim, insiste em deixá-lo maltratando monumentos e derrubando prédios históricos.
A fórmula geral do filme contrapõe a família Maddin ao desenvolvimento da cidade acompanhado pelo diretor, o que ele nos mostra através dos fatos mais inusitados e com atores interpretando seus familiares. Para sua imaginação adulta, que não deixa a dever nada à infantil, Winnipeg conta com mais sonâmbulos do que qualquer outro lugar no mundo. Também foi ali, na cidade que sempre neva e faz muito frio, que certa vez um incêndio num estábulo gerou uma disparada dos cavalos em direção ao rio congelado, onde os animais ficaram para sempre apenas com a cabeça para fora do gelo.
No que toca à família, Maddin não tem uma visão menos criativa. Relembra o salão de cabeleireiro da mãe no andar de baixo da residência, onde permanecia por horas ouvindo os ruídos do trabalho. Ali ele passou boa parte da infância, depois de ter nascido na arena de hóquei da cidade e ali assistido sempre de perto pela mãe no banheiro feminino.
A mãe, aliás, como em Brand Upon the Brain!, tem um papel fundamental e dúbio na formação de Maddin. Sua influência é tal nas lembranças do diretor que ele a transformou numa atriz cheia de trejeitos e exagerada na interpretação - vivida por Ann Savage, esta sim uma atriz cult de filmes noir - deixando mais uma vez ao espectador a escolha de crer ou não em seu retrato da querida Winnipeg.
Especial para Terra
Divulgação
Guy Maddin mistura documentário e dramatização em My Winnipeg
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