32ª Mostra Internacional de SP

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32ª Mostra Internacional de SP

Sexta, 24 de outubro de 2008, 11h29

Premiado de Veneza e documentários são atrações na Mostra de SP

Orlando Margarido
Direto de São Paulo

Todo país, especialmente aqueles mergulhados em conflitos crônicos, deveria realizar o filme, senão definitivo, ao menos ambicioso a ponto de dar conta de seus problemas. Pensando no pressuposto de um cinema a serviço de uma reflexão, Teza seria "o" filme sobre a Etiópia e sua conturbada história recente ¿ ou melhor, de sempre. A primeira exibição da fita acontece nesta sexta-feira, às 21h, no Cine Tam.

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O problema é que não raro esse ponto de partida leva a equívocos de ordem narrativa, dramática e ao conseqüente resultado contrário. Ou seja, para realizar a tarefa de pensar os problemas de uma nação, o filme paga um alto custo que se revela em uma história aborrecida e cansativa para o espectador.

Teza rendeu os prêmios de melhor roteiro e menção especial do Júri ao diretor Haile Gerima no último Festival de Veneza. Apesar disso, não escapa da armadilha de trocar um registro pulsante, como é a trajetória de seu país, por um enredo didático e esquemático.

Em seus longos 140 minutos, a produção abarca três décadas da política desastrosa etíope e a guerra civil acompanhando o personagem intelectual Anberber (Aaron Arefe) a partir de seu retorno ao país, então tomado por um regime marxista repressor.

A trama, além desse momento, se desenvolve em outros dois tempos, quando o jovem estuda Medicina na Alemanha antes da volta à Etiópia, e numa situação contemporânea de quase exílio em sua miserável aldeia natal - este talvez a representação mais genuína da fita por reveladora de costumes de um povo.

Representação equivoca não é o problema, por sorte, de dois instigantes documentários programados também para hoje - mas em horários coincidentes.

Em comum, o francês A Vida Moderna (às 20h40, na Cinemateca, e reprise dia 27), do veterano Raymond Depardon, e a co-produção franco-brasileira Puisque Nous Sommes Nés (primeira exibição às 20h20, no Unibanco Arteplex 2), do casal Jean-Pierre Duret e Andréa Santana, tem o olhar rigoroso e carinhoso com seus personagens.

No caso de Depardon, seus contemplados são antigos conhecidos. A Vida Moderna é o terceiro título de um projeto chamado Profils Paysans, ou seja, perfis camponeses, já que são pessoas da terra o objeto do documentarista. Ele quis saber, no período de quase uma década, o que acontece a esses homens e mulheres ligados a atividades básicas como a agricultura e a criação de gado em tempos de globalização e mudança de valores.

Escolheu uma recôndita região da França e foi para lá primeiro em 2001, em seguida em 2005 e por fim em 2008. O diretor reencontra jovens agora casados e com filhos temendo o futuro e sua subsistência e personagens já de idade avançada, como dois irmãos na faixa de 80 anos que não deixam de pastorear suas ovelhas e implicar com a esposa ¿ que "veio de fora" - do integrante mais jovem da família. É um relato melancólico, sim, mas que mantém sempre vivo a ternura com que mira seus protagonistas.

A cada país uma realidade, e os realizadores de Puisque Nous Sommes Nés (algo como "Já que Nascemos"), exibido fora da competição oficial no Festival de Veneza, trazem um contexto bem diferente do francês ao registrar o cotidiano de dois meninos que sobrevivem da ajuda alheia num posto de beira de estrada em Pernambuco.

Cocada, de 14 anos, sonha em ser motorista de caminhão como Mineiro, o caminhoneiro a quem enxerga como o pai que foi assassinado. Nego tem um ano a menos e vive com a família em uma favela nos arredores. A câmera do casal capta a rotina de abandono mas ainda de esperança dos dois meninos em alcançar vida melhor e uma identidade ¿ como um deles disse aos diretores, "não tenho nada, só minha vida".

A dupla tem dois documentários feitos anteriormente e se dedica a temas como imigração e sobrevivência no Nordeste brasileiro. Duret é francês e engenheiro de som de cineastas como os irmãos belgas Dardenne e Andréa é baiana criada no Ceará. Essa junção de olhares e culturas resulta num equilíbrio honesto e merecedor de atenção.

Redação Terra

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