Orlando Margarido
Direto de São Paulo
O cineasta inglês Hugh Hudson está em São Paulo para acompanhar a pequena seleção retrospectiva de três de seus filmes. Revolução, o controvertido drama sobre a guerra de independência americana, seria o quarto título não fosse uma versão com corte final do diretor chamada "revisited" ou "revisitada". Foi esta que o diretor de Carruagens de Fogo - presente, claro, na programação - trouxe para a 32ª Mostra, não o original de 1987, que será exibida nesta sexta-feira às 20h20, no Unibanco Arteplex 1, e no domingo, às 20h, no mesmo local. Nesta última sessão, o diretor comentará a nova versão para a platéia.
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"É outro filme, completamente diferente", diz Hudson em entrevista ao Terra. Uma das mudanças mais importantes ocorre no final, avisa ele, perguntando se ao contá-la não corre o risco de acabar com a surpresa. "Sabe o final feliz, romântico, típico de Hollywood? Não existe mais".
Quem viu a fita alguma vez sabe que a cena é esperada desde os conflitos em Nova York, as batalhas e as injustiças que separam o personagem de Al Pacino, um barqueiro comum, da amada burguesa mas revolucionária interpretada por Natassja Kinski. "Sem o reencontro, o tema do filme volta a ser o que sempre foi de mais importante, a relação entre pai e filho".
Hudson explica que a fita foi lançada antes de estar terminada e somente 20 anos depois ele conseguiu dinheiro para concluí-la como queria. O novo projeto ajudou a impulsionar uma tendência de revisão do filme por críticos e estudiosos, que na época do lançamento praticamente baniram a fita da galeria dos filmes de referência. Entenda-se a recusa pelos preceitos da indústria do cinema, de Hollywood, num período em que a idéia de um cinema de puro entretenimento começava a vingar com Steven Spielberg e filmes de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger.
Revolução foi fracasso também de bilheteria e condenou o nome de Hudson a uma espécie de exílio involuntário, embora ele prosseguisse com projetos esparsos. "O filme não merecia a má receptividade que teve; eu raramente falo assim dos meus filmes, muitos tem problemas, mas 'Revolução' é um belíssimo trabalho, um drama de um homem comum envolvido pelas circunstâncias numa guerra que não era sua; e esse tipo comum, um anti-herói, é o que os americanos não aceitaram", define.
A idéia de heroísmo, contudo, no sentido da busca de um sonho, aparece com freqüência na produção de Hudson. Está em Carruagens de Fogo e, principalmente, em Fangio - Uma Vida a 300 Km por Hora, sobre o piloto argentino Juan Manuel Fangio, para muitos o melhor corredor de todos os tempos. "Era uma pessoa maravilhosa, inteligente e instigante; não sei se busco nesses personagens o heroísmo, talvez seja de forma inconsciente", aponta Hudson, para logo em seguida comentar seu próximo projeto, que não deixa de ser sobre um ato heróico.
Ele prepara-se para adaptar um livro do escritor George Orwell (1984), um diário de sua participação na Guerra Civil Espanhola, com o ator Colin Firth no papel principal. "Mas o que me interessa aqui é mais uma vez um olhar comum sobre a vida de Orwell naquele momento; ele tinha uma esposa, que teve grande influência sobre ele, mas no diário da guerra não há uma citação dela".
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