Orlando Margarido
Direto de São Paulo
As apostas entre críticos e jornalistas presentes no Festival de Cannes deste ano davam como certo algum prêmio relevante para Um Conto de Natal. Não tanto pelas qualidades do filme, que existem, mas por ser uma espécie de prata da casa, com o badalado diretor Arnaud Desplechin à frente e um elenco de novas e veteranas estrelas como Mathieu Amalric e Catherine Deneuve. Enfim, uma produção francesa genuína. O júri, contudo, evitou o que poderia ser considerado uma mera "patriotada" e deu uma merecida Palma de Ouro ao concorrente alternativo francês Entre les Murs (Entre as Paredes).
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Para esse ano, a Mostra ficou devendo o ótimo filme de Laurent Cantet. Mas a fita de Desplechin passa nesta segunda-feira, em primeira exibição, no Cinemark do Shopping Eldorado, às 22h. Fica quase inviável programar um pouco antes, às 20h10, no Unibanco Arteplex 4, Three Monkeys (Três Macacos).
Mas há mais três sessões para conferir esse rigoroso drama que rendeu, em outro momento feliz do júri, o prêmio de Melhor Diretor em Cannes para o turco Nuri Bilge Ceylan.
Em contraste com a sobriedade (e o tom sombrio), já característica do cineasta Ceylan, será exibido, às 21h30 no Unibanco Arteplex 1, Vicky Cristina Barcelona, um Woody Allen solar e contagiante que nunca aborrece com um quarteto amoroso protagonizado por Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz e Javier Bardem. O cenário, claro, é a Espanha e a trama é apenas superfície para o cinismo divertido do diretor.
Ao contrário, há quem se sinta extremamente entediado com a conversação infinita que rege uma categoria de cinema francês e a qual Um Conto de Noel se filia com louvor. Dito isso, é preciso entrar na proposta de Desplechin e na de outros cineastas representados na 32ª Mostra, como Olivier Assayas (Horas de Verão), para que a forma ganhe conteúdo. Em ambos os filmes, temos a família como estrutura de alguma possível convivência, mas também de choque e acerto de contas.
No caso do filme de Assayas, cujo ponto de partida é a morte da matriarca e a divisão de bens como representação da mudança de valores e de geração, o embate é mais leve. Já Desplechin radicaliza com o conturbado passado que atormenta a família Vuillard às vésperas do Natal, reavivado com a chegada do filho menos pródigo, ou mais diretamente, a ovelha negra do clã Vuillard (Amalric, de O Escafandro e a Borboleta e o vilão do novo 007). Enquanto a morte de um de seus irmãos quando criança ainda paira no ar, ele é cínico e áspero com todos, e defendido apenas pela mãe (Deneuve), diagnosticada com uma doença fatal.
Uma família não precisa ser numerosa para se tornar fonte de relações dramáticas, como nos mostra o representante turco. Em Three Monkeys basta um filho jovem sem perspectivas, indeciso entre uma carreira e um emprego, e seus pais em crise na relação, para o embate chegar também a um limite violento. A diferença é que Ceylan enquadra tudo com extrema parcimônia de atitudes e, principalmente, com muito silêncio.
Especial para Terra
Divulgação
Desplechin dirige drama familiar em Um Conto de Noel
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