Orlando Margarido
Direto de São Paulo
A tendência atual dos filmes de artes marciais na escala de grande produção, e ao mesmo tempo com selo de arte, se divide em antes e depois de Cinzas do Tempo, título que ganhou aqui na época o filme do chinês Wong Kar Wai de 1994. Antes, o gênero pertencia ao estrato popular do cinema oriental, onde ainda permanece em boa parte. Depois, influenciou cineastas e foi alçado à condição nobre por nomes como Ang Lee (O Tigre e o Dragão) e Zhang Yimou (Herói e O Clã das Adagas Voadoras).
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É sob essa perspectiva, do ineditismo de época em relação ao gênero, que o público em geral pode se interessar pela versão, digamos, econômica da fita que será exibida nesta segunda-feira, às 21h50, no Espaço Unibanco Pompéia 1, com reprises até a próxima quinta-feira. Para os fãs, no entanto, a volta a Cinzas do Passado Redux, em tradução mais pertinente, tem caráter de justiça.
Visto e revisto até hoje em cópias com as mais variadas formatações, o filme foi revisitado - para usar a expressão do britânico Hugh Hudson quanto ao seu Revolução, em caso semelhante - por Kar Wai, que embaralhou e ajustou cenas para acentuar a relação dos personagens, além de intensificar as cores e acrescentar à trilha sonora o violoncelo pródigo do Yo-Yo Ma, músico franco-americano de origem chinesa.
O resultado da versão definitiva são sete minutos a menos na duração, agora de 93 minutos, e o realce da estética deslumbrante que se confirmaria com Amor à Flor da Pele e 2046.
Uma das principais queixas dos críticos à época do lançamento era a difícil distinção dos papéis em cena, dificultando o entendimento das tramas conjuntas.
Com a "mexida" de Kar Wai, a história levada durante as estações do calendário chinês destaca o espadachim Ouyang Feng como figura centralizadora dos demais acontecimentos. Ao abandonar sua casa numa montanha simbólica, quando a mulher que ama escolhe seu irmão mais velho, o guerreiro torna-se uma espécie de representante de matadores de aluguel.
O personagem é interpretado por Leslie Cheung, que já experimentava aqui sua ascensão como astro oriental, assim como boa parte do elenco de futuras estrelas como Maggie Cheung, Tony Leung, Brigitte Lin e Carina Lau. Num gênero que atualmente pode soar repetitivo, Kar Wai recompensa com uma união de fatores que, aí sim, dificilmente será repetido.
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