Filme turco traz tom fantástico à programação da Mostra de SP

Na fraca seleção do Festival de Veneza deste ano, o concorrente turco Leite trouxe ao menos um universo interessante para se debater. Nem todos os jornalistas, no entanto, se mostraram prontos a aceitar a história que flerta com o simbólico e o fantástico, no sentido de algo irreal. O filme do diretor Semih Kaplanoglu lança mão desses recursos, a exemplo de uma referência constantes a cobras, para dar conta de uma trama que, afinal, pode ser considerada realista e corriqueira. A primeira sessão da fita acontece nesta terça-feira, às 16h, no Cine Bombril 1.

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Trata-se aqui da crise do adolescente Yusuf em sua passagem para a vida adulta. Dedicado à poesia, o jovem mora com a mãe num vilarejo da Turquia, onde sobrevivem da produção de leite e queijo. Nesse cotidiano tranqüilo surgem algumas novidades na vida do jovem com a publicação de seus poemas e a tentativa de ingressar no exército.

A relação com a mãe também começa a ser abalada quando ela conquista um admirador e tem a chance de renovar um pouco sua rotina. Com poucos diálogos, o filme deixa a introspecção fazer seu trabalho nas interpretações, decisão que transfere ao espectador a incumbência de decifrar em boa parte o que se passa com o protagonista.

Leite integra uma trilogia do diretor realizada de trás para frente. Yumurta (ovo), o primeiro filme, mostra o protagonista com 40 anos. O próximo, como ele adiantou em entrevista em Veneza, trará Yusuf criança. Mas o título atual pode ser visto de forma independente, avisou o diretor. Segundo ele, sua intenção não foi realizar uma obra simbólica, ou mesmo metafísica como alguns alegaram, mas sim de representação de uma realidade que envolve muitos jovens turcos.

"Essa idade para os homens turcos é de grande pressão", diz o cineasta. "Além da crise de identidade, de não saber se pertencem ao oriente ou ao ocidente, eles são cobrados a logo tomar uma decisão e dar rumo a suas vidas". Nesse momento, segundo ele, a mãe tem papel fundamental numa sociedade masculina como a turca, pois é um momento de rompimento duro para os jovens.

Vale conhecer o trabalho do diretor também como um contraponto aos dramas mais secos e ríspidos de Nuri Bilge Ceylan, o principal nome hoje do cinema turco internacional, cujo novo filme Three Monkeys será exibido às 21h40 no HSBC Belas Artes.