Cannes 2007

Sites relacionados

Cannes 2007

Terça, 22 de maio de 2007, 11h10  Atualizada às 11h57

"Em 'Sicko', eu corro riscos sérios", diz Michael Moore

Michel Guerrin
Reuters

Michael Moore apresenta Sicko em Cannes
Busca
Saiba mais na Internet sobre:
Busque outras notícias no Terra:

Michael Moore chegou a Cannes bem à sua maneira: boné, camisa colorida, um pouco mais magro. "Perdi 10 quilos comendo aquilo que vocês definem como frutas e legumes", disse. Premiado com a Palma de Ouro no festival de Cannes de 2004 por Fahrenheit 9/11, em 19 de maio o norte-americano exibiu Sicko (Doente), sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos. O trabalho, exibido fora da mostra competitiva, fez sucesso de público e atraiu o interesse da imprensa.

» Veja a foto ampliada!
» Michael Moore tem recepção calorosa em Cannes
» Assista a trailers inéditos!

Sicko denuncia o sistema de seguro-saúde privado, cujo desempenho deficiente mantém 48 milhões de norte-americanos desprovidos de qualquer cobertura social.

Na primeira cena, um homem costura sozinha uma ferida que tem na perna porque ele não dispõe de plano de saúde. "Os Estados Unidos são o único país ocidental a não dispor de cobertura social universal, e o único onde as operadoras de planos de saúde recebem dinheiro público. O objetivo delas não é curar as pessoas, mas maximizar os lucros", disse Moore, que faz parte dos "dois terços de norte-americanos" que dispõem de meios para bancar planos de saúde privados.

Seu objetivo com o documentário era "incitar o público do país a agir". Para isso, ele apresenta seu caso de maneira percuciente, eficaz e divertida. O diagnóstico é correto, mas a demonstração deixa a desejar. Assim, para criticar o sistema norte-americano, ele presta homenagem vibrante ao Canadá, Reino Unido e França, que dispõe de seguro social universal - "três países onde as pessoas têm expectativa de vida maior que a nossa", afirma ele. No Canadá, ele mostra pacientes que dizem ter enfrentado espera de 20 a 40 minutos antes de serem atendidos de graça em um hospital público.

Um jornalista canadense rebate argumentando que "o exemplo do Canadá é justo, mas um dia desses minha mãe ficou cinco horas na fila. Por que não mencionar que isso acontece?" Moore não se abala: "Lamento por sua mãe, mas os canadenses sempre reclamam."

O próximo tópico é a França, que segundo o cineasta tem "o melhor sistema do mundo. E quem diz isso não sou eu, mas a Organização Mundial de Saúde". Vê-se no filme uma cena típica de americanos em Paris, pintando o retrato de uma França onde tudo é gratuito ¿medicamentos, hospitais, creches, assistência domiciliar, socorro médico. Para além dessa caricatura, nem mesmo uma palavra sobre o empobrecimento do sistema de saúde pública francês. "Existem problemas", respondeu Moore. "Mas os franceses amam se detestar ainda mais que os norte-americanos os detestam."

O filme de Moore chega até a servir como elogio a Cuba. Ele viajou de barco ao país, levando com ele uma dezena de norte-americanos desgastados pela vida. Propaganda castrista? "Absurdo", responde Moore. Cinco dias antes de Cannes, ele revela, uma carta do Tesouro norte-americano o acusando de violar o embargo do país contra Cuba lhe foi enviada. "Tive medo de que o filme fosse apreendido. Em 24 horas, despachei uma cópia dos Estados Unidos para garantir a exibição em Cannes". Ele tem prazo até 22 de maio para responder à carta.

"Corro riscos sérios". Que riscos? "Risco de prisão. Uma tempestade me aguarda nos Estados Unidos". Seria possível imaginar que Sicko venha a ser proibido no país? "Absurdo", responde Moore.

Em Sicko, Moore não provoca reação de nenhum "malvado". Por que ninguém quis falar com ele? "Não. Eu estava à procura de um tom diferente, me aproximar das pessoas que sofrem. Estou cansado do ruído ao meu redor. Cansado da dezena de documentários que foram feitos contra mim, ao ponto de eu poder montar um festival de cinema anti-Moore."

Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

Le Monde