Festival do Rio 2008

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Festival do Rio 2008

Quinta, 2 de outubro de 2008, 02h19 Atualizada às 02h29

Documentário de Branco Mello não foge de questões espinhosas

Marcelo Lyra
Direto do Rio de Janeiro

O documentário Titãs, a Vida Parece uma Festa, do diretor e músico Branco Mello, era um velho sonho, que começou em meados dos anos 80, quando ele comprou uma câmera VHS. O tempo foi passando e o diretor percebeu que o material que tinha em mãos ganhou importância para além do registro doméstico. "Percebo que a história do grupo estava contada ali", disse.

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Em 2002, Branco resolveu chamar Oscar Alves, jornalista e montador de vários clipes da banda. Depois de seis anos de trabalho, onde, segundo Oscar, não havia uma semana em que não editasse alguma coisa, o filme foi lançado no Festival Rio 2008 e bem recebido pelo público. O filme estreará no circuito comercial na segunda semana de janeiro.

No dia seguinte, Branco Mello recebeu a reportagem do Terra para esta entrevista exclusiva.

Você imaginava que sua coleção de fitas de vídeo com viagens e bastidores da banda poderia se transformar em cinema?
No começo não, mas depois de alguns anos percebi que poderia render algo. Mas era preciso juntar com entrevistas dadas para a TV, imagens gravadas em shows por profissionais ou amadores e também nossas participações em programas de auditório, desde o início do grupo e até no Mamões e Mamonetes, conjunto que foi a gênese dos Titãs. As imagens foram reenquadradas para o formato 16x9 (retangular como a tela de cinema).

Fui assistir achando que seria um filme com cara de especial para a TV, enchendo a bola do grupo, e me surpreendi com um documentário ousado, que aposta numa montagem criativa, com freqüentes idas e vindas no tempo, sem o apoio da voz narrativa...
Eu achava que ficar falando como foi feito cada disco, como escolhíamos as músicas, explicando cada época, não combinava com o espírito do grupo. Preferimos uma linguagem mais solta, mas que registrasse todas as épocas que vivemos. Ele é cronológico, mesmo sem ser cronológico. Colocamos algumas datas, mas apostamos também que o espectador reconheceria a época pelas músicas, as roupas, os cabelos...

Mas acho que o que dá mais legitimidade ao filme é a honestidade de vocês para com o espectador. Vocês não fogem de nenhum assunto, falam da prisão por uso de drogas nos anos 80, da troca de baterista logo no início, das saídas de Arnaldo Antunes e Nando Reis, mostra você mesmo muito louco, mostra a bronca enorme do produtor Liminha no baterista Charles Gavin, que estava dando um rumo errado. Nada é escondido.
Conversei muito com todos os membros da banda, incluindo o Nando e o Arnaldo, queria que todos estivessem bem representados. Tinha um certo receio que algum pudesse reclamar de alguma coisa, de eu estar expondo muito o grupo. Eu sabia que estava expondo, mas quando mostrava para cada um as cenas mais difíceis, a bronca do produtor no Charles, eles mesmos eram os primeiros a dizer que tal cena tinha que ficar. Todo mundo quis muito essa coisa da honestidade.

O filme tem uma grande liberdade temporal, mas nunca perde o fio da meada. Como foi alinhavar tudo, para não ficar um caos?
A idéia da montagem era enlouquecer mesmo, fazer uma coisa anárquica. Com o tempo fomos mudando, acrescentando alguns letreiros curtos com as datas. Fomos percebendo que poderíamos usar recursos visuais para marcar as épocas. Cabelos, roupas, jeito do grupo. Você pode ir e voltar no tempo que o espectador percebe. É uma questão de confiar na inteligência do espectador. Ou seja, mostramos o Arnaldo saindo da banda, mas em outra cena ele está cantando com o grupo. Isso é um grande trunfo do filme. O mais difícil era tirar coisas fora, na hora de montar. Muita coisa ficou de fora. Quem sabe entrem quando o filme for para o DVD.

Especial para Terra

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