Orlando Margarido
Direto de Gramado
Os dois longas-metragens exibidos nesta segunda-feira à noite no segunda dia da competição foram recebidos sem entusiasmo. O argentino Por sus Proprios Ojos, traduzido pelo festival como Com Seus Próprios Olhos, da diretora Liliana Paolinelli, abriu a programação e a seleção dos estrangeiros. Em seguida, a platéia que lotou a sala do Palácio do Festival assistiu ao brasileiro, ou para ser mais preciso por aqui, ao gaúcho Vingança.
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E isso fez toda a diferença na animação do público, como uma torcida de futebol que comparece em massa quando joga o time da casa. Ainda sim, o primeiro longa-metragem de Paulo Pons ficou devendo no aplauso.
Produzido com o "baixíssimo orçamento", segundo a própria publicidade do filme, de R$ 80 mil, Vingança parece se fazer valer dessa restrição para justificar defeitos que não se relacionam a custos de produção, como os diálogos frágeis e a história arrastada. Sofre ainda de alguns maneirismos facilmente evitáveis não fosse a visível intenção de dialogar com um grande público disposto a ver telenovela também nas salas de cinema.
Na trama, uma jovem do interior do Rio Grande do Sul é violentada e largada à beira de um rio. Meses depois, seu noivo (Erom Cordeiro) vai ao Rio de Janeiro vingar-se do suposto estuprador e envolve-se com a irmã dele.
Com mais estofo e melhor estruturado, Por sus Proprios Ojos não deixa de ter problemas, sendo o mais sério a perda de rumo e do ponto que realmente deseja discutir. Sua premissa é recorrente na história do cinema: o recurso do filme dentro do filme.
Duas jovens estudantes da faculdade de cinema decidem realizar um documentário sobre as mulheres de presos. Já na espera na frente da penitenciária durante o dia de visitas, elas descobrem que será uma tarefa difícil. A maioria não que falar e muito menos aparecer no vídeo, temendo prejudicar os maridos ou de se expor demais para a sociedade, o meio profissional etc. Uma delas, uma mãe com o filho preso por roubo e à espera do julgamento, torna-se a batalha mais difícil das novatas. É nela que o filme se fixa, parecendo misturas situações reais com ficcionais, uma espécie de jogo de cena que talvez seja interessante discutir à luz do documentário de Eduardo Coutinho, justamente chamado Jogo de Cena.
A programação ainda fez uma menção à morte em julho último ao jogador de futebol e ator gaúcho Breno Mello, o "Orfeu negro" que Marcel Camus escalou para sua adaptação da peça de Vinicius de Moraes (Orfeu do Carnaval), em 1959, no Rio de Janeiro. Faltou lembrar também sua interpretação em O Negrinho do Pastoreio, versão fraquíssima da lenda gaúcha feita para cinema por Antonio Augusto Fagundes. A lenda volta a Gramado este ano renovada pelas mãos de Tabajara Ruas em Netto e o Domador de Cavalos.
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