36º Festival de Gramado

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36º Festival de Gramado

Terça, 12 de agosto de 2008, 17h55 Atualizada às 17h53

Filme que se passa no Capão Redondo quer buscar público jovem

Orlando Margarido
Direto de Gramado

O diretor paulista Jeferson D, famoso pelo manifesto Dogma Feijoada lançado em 2000, mostrou no início da tarde desta terça-feira, em Gramado, dez minutos de seu primeiro longa-metragem, Bròder!. A iniciativa aconteceu dentro da programação do 16º Gramado Cine Vídeo, mostra paralela ao Festival de Cinema da cidade voltada a um segmento mais independente e de novos realizadores.

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A fita se passa no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, periferia onde se reencontram três amigos de trajetórias distintas. Um deles, uma espécie de epicentro da trama, é Macu, personagem interpretado por Caio Blat, que vive na cor da pele a contradição de morar num local onde a população negra predomina.

"Mas ele se sente 'negão' até a alma e é considerado assim pela vizinhança, por quem é querido e respeitado", explica Jeferson, já antevendo a polêmica da escolha do ator para o papel.

"Quis alguém justamente muito branco, filho de mãe branca, que é a Cássia Kiss no filme, para representar todo o contraste que se vê num bairro como o Capão."

Os demais amigos são Jonathan Haagensen, um jogador de futebol internacional que mora na Espanha e Silvio Guindane, um tipo mais comportado, careta, como diz Jeferson. "Ele é alguém que escolheu o caminho legal da sociedade, da ralação, e tem que lutar todo dia, como eu", diz.

Um elenco e tanto para uma estréia. E tem mais. Comparecem Ailton Graça, Antonio Petrin, João Acayabe e Zezé Motta, que já foi protagonista de um curta-metragem do diretor, Carolina. Jeferson está nas nuvens com tão boa companhia. "Nunca pensei num time desse para um primeiro filme meu, foi um presente."

Em parte, a união de grandes nomes se explica pela associação com a Globo Filmes e a Columbia. O diretor Daniel Filho está envolvido diretamente com a produção, que teve o roteiro selecionado pelo laboratório do Sundance Festival, e até faz uma ponta na fita.

Jeferson faz questão de ressaltar a dedicação de Caio Blat ao papel, que chegou a alugar uma casa e se mudar para o Capão durante um período para conhecer melhor o bairro. "Eu soube disso pelos jornais e liguei preocupado para ele!"

Como Macu, uma referência ao Macunaíma de Mário de Andrade, personagem também envolvido em questões de identidade, Blat será o jovem seduzido pela ascensão oferecida pelo mundo do crime.

No trecho de dez dos 100 minutos do filme, é possível vê-lo envolvido com armas e supostos sequestros. Mas Jeferson diz que evitou cenas de violência explícita.

"Mostro armas, mas não tiroteios; assim como também não tem cenas de sexo", diz. Isso porque o estreante em longas quer atingir um público jovem e espera uma classificação etária de 14 anos.

"Ao mesmo tempo, não quis estigmatizar ainda mais um bairro já conhecido pela criminalidade, mas que também tem ótimos artistas, como Mano Brown e o poeta Ferrez."

Foi o rapper, aliás, que abriu as portas do Capão para as filmagens. "Brown ficou muito entusiasmado por fazermos um filme ali e se tornou um padrinho da fita", diz o diretor.

Nascido em Taubaté e formado em Cinema pela USP, Jeferson lembra que descobriu o Capão ao conhecer estudantes negros e pobres como ele, que acabaram por formar um gueto no campus.

Seu manifesto Dogma Feijoada não apenas sacudiu o marasmo das novas gerações de realizadores brasileiros, como valorizou os diretores chamados afro-descendentes, a quem era dedicado. Espera que o filme, com lançamento previsto para o próximo ano, venha concretizar essa trajetória e mostrar a cara de um novo cinema.

Especial para Terra

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