Orlando Margarido
Direto de Gramado
Opiniões divergentes sempre são saudáveis durante um festival de cinema e o filme de Tabajara Ruas, Netto e o Domador de Cavalos, é o título que até agora provocou debates mais inflamados.
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Em grande parte porque toca na prata da casa, a história épica rio-grandense, ou ao menos um recorte dela vista pelo ângulo de uma lenda. O gaúcho Tabajara toma a popular história do Negrinho do Pastoreio (vivido pelo bom estreante Evandro Elias) e o leva ao momento próximo da eclosão da Revolução Farroupilha, em 1835, do qual parte, aliás, seu filme anterior, Netto Perde sua Alma.
Propriedade de um rico barão, o negrinho perde uma corrida de cavalos e é chicoteado, numa das cenas mais perturbadoras e dramáticas ¿ e a melhor do filme ¿ vistas até agora no festival.
No debate com público, jornalistas e convidados a pouco, as críticas mais contundentes eram em relação ao didatismo excessivo da fita, especialmente pela escolha do recurso da narração, pomposa e descritiva demais. "Há mesmo um tom solene, que fiz questão de usar pois achava importante ressaltar a nobreza do personagem do narrador", justificou Ruas.
O personagem é um índio mestiço interpretado por Tarcísio Filho, a quem o general Netto (mais uma vez Werner Schünemann) reencontra prisioneiro dos militares num forte longínquo. A presença de Tarcísio, numa composição que não convence nas sutilezas exigidas por um tipo tão específico e rico, também incomodou e foi objeto de algumas perguntas no encontro.
"Acho que há uma prevenção com ele, por ser ator de televisão, filho de quem é; mas ele é um ótimo ator e está com um olhar perfeito, maravilhoso, que sintetiza o personagem", diz.
Ruas acrescentou que continuará a realizar filmes históricos, dramáticos como esse, épicos como o anterior, para tentar eliminar uma tendência rasa, sem nuances, de como o gaúcho entende sua história.
"É uma coisa patriótica boba; esse filme não é sobre a história do Rio Grande do Sul, e sim pretendi fazer um mural cultural do estado", disse.
"A tragédia aqui é a que envolve o negrinho, que foi chicoteado até a morte e tornou-se uma lenda", completa.
Werner Schünemann emendou que é necessário cair fora do chavão, dos clichês patrióticos bobos, pois "o Rio Grande do Sul seqüestrou sua história do resto do Brasil, e assim como Guimarães Rosa falou de Minas para todo o país, nós precisamos fazer o mesmo e devolver a história gaúcha para os brasileiros".
Especial para Terra
Divulgação
Cena do filme Netto e o Domador de Cavalos, de Tabajara Ruas
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