36º Festival de Gramado

› Diversão › Cinema e DVD › Festival de Gramado › 36º Festival de Gramado

36º Festival de Gramado

Quinta, 14 de agosto de 2008, 10h32 Atualizada às 10h47

Competição em Gramado tem sua melhor noite

Orlando Margarido
Direto de Gramado

Desde o bloco dos curtas-metragens, iniciado às 17h, até os dois longas-metragens em competição da noite, a programação desta quarta-feira no Festival de Gramado foi a que mereceu melhor avaliação e discussões mais inflamadas no calendário visto até agora.

» Veja os indicados
» Confira a programação

» "Homenagem tem gosto azedo", diz o cineasta Júlio Bressane

Mesmo a homenagem a Julio Bressane trouxe um pouco mais de contraste aos agradecimentos protocolares, pois o cineasta repetiu o que disse à tarde, antes de receber o Troféu Eduardo Abelin.

Considerou que Gramado lhe fez justiça depois de ter, durante anos, boicotado sua presença, e claro, seus filmes. Quanto à programação, os títulos, incluindo aí os curtas, estavam longe de serem perfeitos.

A irregularidade é um bom parâmetro também para o debate e Perro Come Perro, o representante colombiano, e Pachamama, o competidor brasileiro, têm essa vocação para causar divergências. MO< O primeiro é um thriller do diretor Carlos Moreno temperado com boa dose de violência, mas algum humor negro também.

Eryk Rocha, filho do diretor Glauber Rocha, assina o documentário mostrado em seguida. Ao subir no palco para a apresentação ao lado do roteirista Alonso Torres, o ator Oscar Borda, que vive um dos homens de contrato da dupla central, lembrou de um outro quesito essencial a julgar pelo que disse. "Tem um ponto muito importante nessa fita", frisou. "Comigo, são quatro atores negros num único filme, o que é muito difícil na Colômbia".

A diferença de raça realmente faz seu papel na disputa de clãs rivais pelo poder no que parece ser a grande Bogotá. O estopim é o roubo de um dinheiro pertencente a um chefão por seu enviado, que deveria recuperá-lo. Mas Victor (Marlon Moreno) pensa na mulher e na filha preste a emigrar para os Estados Unidos e esconde o dinheiro num quartinho de hotel decadente, onde espera a ordem para uma nova missão com o colega (Borda). Este, por sua vez, está sendo perseguido por um ritual de magia negra que lhe faz ter alucinações.

Boa parte da tensão decorre da permanência desses dois homens no quarto, acompanhados de acontecimentos bizarros como um insistente telefonema que procura por uma mulher. A fita tem o pique na linha dos títulos latino-americanos de marginalidade e violência urbana, como Amores Perros, mas joga nos parâmetros conhecidos do gênero e não traz muitas novidades.

O ritmo tenso de Perro Come Perro contrastou com os primeiros momentos de Pachamama, o segundo documentário de Eryk Rocha depois de Rocha que Voa, dedicado ao pai, o cineasta Glauber Rocha. Eryk faz uma viagem de carro saindo do Rio de Janeiro, onde mora, até o interior do Peru e da Bolívia.

Faz um road-movie, digamos, étnico-social, preocupado em mostrar a vida e o cotidiano da população indígena urbana e do interior, mas também sua situação social e as aspirações a partir das mudanças de governo recentes que passam seus países.

O filme é uma reflexão poética de longos planos de excelência, atrelados ao carro ou não, e com bons momentos e flagrantes de seu material antropológico. Mas custa a engatar no início e se estende demais em tomadas de puro formalismo que trazem seu custo a um belo trabalho de investigação. É irregular, assim como os curtas-metragens concorrentes vistos ontem.

Mais uma vez, a animação bonecos Dossiê Rê Bordosa, espirituosamente considerada um documentário ¿ e foi até incluído no festival do gênero em São Paulo ¿ repetiu o sucesso de mostras anteriores. Na fita dirigida por Cesar Cabral, personagens ligados ao universo do cartunista Angeli, o criador da Rê Bordosa que decide matá-la, são recriados em bonecos e dão seus depoimentos.

Outros dois bons concorrentes foram Subsolo, do gaúcho Jaime Lerner, sobre mulher que decide se matar no Carnaval (interpretada pela ex-global Carla Marins) e Osório, ensaio poético sobre a praça curitibana homônima das paranaenses Heloisa Passos e Tina Hardy, a primeira uma respeitada fotógrafa de cinema.

Esticado na história e com um final apelativo de recurso já muito usado, O Presidente dos Estados Unidos foi a exceção que fez crescer as demais experiências.

Especial para Terra

Busque outras notícias no Terra