Walter Salles: serenidade em relação à Palma de Ouro
Foto: Reinaldo Marques/Terra
Na sequência, haverá uma coletiva de imprensa onde estarão também os atores Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna, Mia Maestro, o roteirista José Rivera, e, claro, Alberto Granado (o amigo de Che Guevara retratado no filme).
Desses, apenas Mia Maestro e José Rivera não participaram do lançamento brasileiro do filme que acumula, em duas semanas em cartaz, 215.734 espectadores, segundo os dados do semanário Filme B.
Salles não escondeu sua satisfação com esses números no Brasil - "a frequência do filme não caiu praticamente nada e continua repercutindo agora nos cadernos de política", observou o diretor, em uma entrevista concedida nos jardins do Hotel Résidial.
Também mostra-se absolutamente sereno com suas possibilidades de vencer a Palma de Ouro: "Não tenho a menor idéia e acho que este é um exercício que não se deve fazer."
Frisou que ouviu falar que a seleção de competidores este ano "está muito forte" e que não teve ainda tempo de ver quase nada.
Assistiu apenas ao filme de Emir Kusturica, La Vie Est un Miracle, não lhe poupando elogios: "Ele tem um completo controle da mise-en-scène."
Salles acha que um dos fortes concorrentes é 2046, de Wong Kar-wai, já que o diretor apresentou dois grandes filmes em Cannes anteriormente (Happy Together e Amor à Flor da Pele), que foram premiados mas não venceram a Palma e que esta pode ser sua chance.
O diretor brasileiro ficou também contente de saber da repercussão positiva do filme de Michael Moore, Farenheit 9/11, aplaudido de pé por mais de 15 minutos pelo público na sessão oficial. "Moore é um cineasta necessário", definiu.
Fora do Festival de Berlim
Jurado no Festival de Cannes em 2002, ele acha mais confortável estar do outro lado, como concorrente. Guarda boas lembranças da experiência daquele júri, presidido pelo cineasta norte-americano David Lynch. "Aquelas pessoas estavam ali para gostar dos filmes. Havia um desejo de cinema nelas."
Por considerar seu longa-metragem "simples e direto", reitera que por isso nunca teve expectativas para este festival.
"Nunca pensei que estaríamos aqui. Em Sundance sim, porque é a casa do cinema independente. Mas aqui costumam transitar filmes com outras características", explicou.
O cineasta esclareceu também a questão do festival de Berlim. Salles diz que Diários de Motocicleta foi selecionado para o festival alemão também, mas houve problema de datas.
Por estar filmando o suspense Dark Waters nos EUA, Salles não podia comparecer para as entrevistas daquele festival a não ser no sábado (nos dias de semana, devia filmar). Como não foi possível acomodar sua agenda nesse dia, ele acabou desistindo do festival, que venceu em 1998 com Central do Brasil.
Para a sessão oficial, às 19h30 da quarta-feira, Salles não espera a vinda do produtor Robert Redford. "Só se ele vier me fazer uma surpresa", brincou.
Além da participação em Cannes, o diretor está agora preparando o lançamento internacional do filme. Nesta sexta-feira, estréia na Inglaterra, em 14 de junho (aniversário de Ernesto Guevara), em Cuba, e no dia 8 de outubro, nos Estados Unidos.
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