O diretor Hector Babenco
Foto: Rogério Lorenzoni/Terra
O cineasta acredita que esta violência é conseqüência "das carências" em que vive muita gente, em bairros "sem infra-estruturas de nenhum tipo, sem meios de subsistência e sem informação sobre controle de natalidade".
No entanto, Carandiru não é um filme sobre a violência, mas sobre "as leis que regem a vida da prisão", normas que não estão escritas em nenhum lugar mas que são cumpridas com todo o rigor.
Em uma cena do longa, o diretor da prisão diz: "Este lugar é dos presos e se explode é porque eles não querem".
O código interno da prisão, que os presos respeitam para sobreviver, faz com que "haja menos violência dentro das prisões do que nas ruas", explicou Babenco.
O realizador constrói um mosaico de dramas pessoais a partir das histórias contadas pelos presos ao médico Dráuzio Varella, vivências que Babenco reúne "sem julgá-las, com a limpeza do olhar de um médico, para quem todas essas pessoas são pacientes que atende por igual".
A violência retratada no filme é um dos problemas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá dificuldades para erradicar, segundo Babenco.
No entanto, o realizador está convencido de que Lula "vai fazer muitas coisas porque é um lutador. Não poderá fazer tudo o que prometeu porque prometeu muito, mas fará coisas importantes".
Além de apresentar seu filme, Babenco está no Festival como membro do júri da Seção Oficial e está hospedado no hotel María Cristina, desde onde ouve constantemente os gritos dos trabalhadores, que estão em greve há uma semana.
"Aqui os senhores brigam para trabalhar oito horas semanais menos que no Brasil, onde brigamos para trabalhar", disse o diretor, que lembrou aos jornalistas que vive em um país com "uma miséria endógena", onde é muito difícil fazer cinema.
As dificuldades do cinema brasileiro levou o diretor de O Beijo da Mulher Aranha a trabalhar várias vezes nos Estados Unidos.
Mas Babenco não pretende ser um diretor de Hollywood e fazer carreira nos Estados Unidos, porque "o exílio tem um preço muito caro" e ele já teve que refazer sua vida uma vez, ao chegar ao Brasil, com 17 anos.
"Não quero viver nos Estados Unidos e transformar-me - disse o cineasta- porque o desenraizamento cultural te faz perder muitas coisas e só te faz ganhar dinheiro".
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