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Cinema

 
 

Filme de Gibson aviva a polêmica sobre Cristo

23 de janeiro de 2004 12h07 atualizado às 12h14

Paixão de Cristo , de Mel Gibson. Foto: Divulgação

Paixão de Cristo, de Mel Gibson
Foto: Divulgação

A um mês de seu lançamento, o filme A Paixão, de Mel Gibson, que narra o sofrimento de Jesus Cristo em suas últimas horas de vida, cria o mais acalorado debate entre os grupos religiosos que defendem seu rigor histórico e os que o acusam de provocar reações anti-semitas.

Gibson, um católico fundamentalista, acha que essa polêmica vai piorar com a estréia do filme em 25 de fevereiro, dia em que os cristão celebram a Quarta-feira de Cinzas.

"O pior está por vir", afirmou o ator e diretor australiano aos 3.500 pastores evangélicos congregados esta semana durante uma cúpula pastoral realizada em Orlando, Flórida, onde viram uma pré-estréia do comentado filme.

Na quinta-feira, o Comitê Judeu-Americano criticou o filme por representar "um preocupante retrocesso em relação aos destacados progressos nas relações judaicas-cristãs nos últimos quarenta anos".

Especialistas religiosos desse comitê viram o filme no início da semana e depois manifestaram sua mais profunda preocupação por seus elementos antijudeus, o que, segundo eles, só aumentará a polarização entre os credos das pessoas.

"O filme volta a impor estereótipos sobre os judeus já rejeitados por uma maioria de líderes católicos e protestantes", explicou David Elcott, diretor do comitê.

A polêmica é tanta que até o Papa João Paulo II entrou na roda. A imprensa andou noticiando que o Papa havia elogiado o filme, mas funcionários do Vaticano se apressaram a desmentir a informação, apesar de confirmarem que o Santo Padre viu o filme sem emitir comentários.

A Paixão foi condenada há meses pela Liga Anti-Difamatória, uma poderosa organização dedicada a combater o anti-semitismo.

"O filme apresenta, sem dar lugar a ambigüidades, as autoridades e uma facção judia como os responsáveis pela decisão de crucificar Jesus", disse o diretor da Liga, Abraham H. Foxman.

O fundador do Centro Simon Wiesenthal, com sede em Los Angeles, o rabino Marvin Hier, indicou que, desde que foi levantada a controvérsia, sua organização já recebeu centenas de ataques anti-semitas através do correio eletrônico.

O filme, falado em aramaico e latim, também despertou críticas de especialistas e organizações católicos, que acusam a obra de reavivar a idéia de que os judeus são os assassinos de Cristo, acusação da qual ficaram isentos em 1965 como parte das reformas do Concílio Vaticano II.

"Estamos realmente preocupados que isso possa provocar uma grande crise entre cristãos e judeus", admitiu a religiosa Mary C. Boys, do Seminário de Teologia de Nova York.

Gibson, que pertence a um grupo católico ultraconservador que não aceita as reformas do Concílio Vaticano II e ainda celebra a missa em latim, defende com fervor seu filme, que só recentemente conseguiu um distribuidor.

Além de escrever, produzir e dirigir, ele colocou mais de 25 milhões de dólares de seu próprio bolso para financiar o filme rodado em Roma e estrelado por Jim Caveziel no papel de Jesus e a bela italiana Monica Belluci como Maria Madalena.

O filme, no entanto, também recebeu elogios da crítica e de grupos cristãos. "Acho que é incrível", afirmou o reverendo Ted Haggard, presidente da Associação Nacional de Evangélicos.

"Em primeiro lugar, é uma grande obra de arte. Senti que, pela primeira vez, um filme mostra a vida de Cristo de uma maneira autêntica. Até parece que pegaram uma câmera e a levaram para 2000 anos atrás", acrescentou.

Para Dean Hudson, editor da revista católica Crisis, o filme "será um clássico, uma referência para os cristãos e todas as crenças que quiserem ver o melhor filme sobre a Paixão de Cristo".

A polêmica evoca as críticas em torno do filme A última tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1968), que mostrava o "filho de Deus" com fantasias sexuais.

Por que tanta controvérsia, questiona muita gente. Jonathan Golberg, editor da National Review Online, encontrou uma resposta. "O crime em questão é o maior já cometido: o assassinato de Deus".

AFP
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