Toronto 2006

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Quarta, 13 de setembro de 2006, 10h37 

Filme tenta mostrar lado humano do mais cruel ditador africano

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A idéia era fazer um filme sobre um monstro, mas o resultado foi o retrato de um homem, mostrando tanto o lado humano quanto o lado assassino de Idi Amin, o ditador ugandense que matou cerca de 300 mil pessoas, e a linha tênue que separava os dois lados.

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Amin chegou ao poder em 1971. Expulsou os empresários asiáticos, destruiu a economia do país e provocou uma matança que fez dele o símbolo clássico do ditador africano. Mas The Last King of Scotland (o último rei da Escócia), que estreou no Festival Internacional de Toronto esta semana, mostra Amin como um personagem bem mais complexo, capaz de se divertir e de gostar das pessoas, e também capaz de muita violência e brutalidade.

"Saí com uma nova compreensão sobre ele", disse o ator Forest Whitaker, já cotado para o Oscar por seu papel como Amin, no qual alterna a crueldade e a paranóia com o carinho por seus assessores, especialmente para o médico escocês fictício com o qual o ditador faz amizade.

"Antes eu só tinha aquela imagem de um ditador que matava tanta gente, e ela é verdadeira", disse Whitaker à Reuters numa entrevista. "Toda aquela gente realmente morreu durante seu domínio. Mas depois, quando fiz todas as pesquisas, comecei a ver outras coisas".

O diretor Kevin Macdonald falou em termos mais diretos. "Amin era o africano mais famoso da história até Nelson Mandela sair da prisão - literalmente, não havia ninguém que fosse tão conhecido no Ocidente quanto ele - e acho que isso acontecia porque as pessoas sempre o acharam atraente", disse ele.

Esse é o primeiro filme ficcional do até então documentarista Macdonald. "Há um elemento bastante sedutor nele, que o tornava ainda mais perigoso e aterrador, e uma ameaça ainda maior". "Acho que ele era um monstro, mas um monstro muito complexo, e vê-lo em sua complexidade dá mais interesse ao drama ... Ele não é simples - alguém que matou um monte de gente. Havia um certo charme", disse o diretor.

Macdonald e sua equipe passaram seis meses em Uganda trabalhando no filme, com a ajuda de cartas de apoio do presidente e de autoridades do governo, e utilizando bens como carros e móveis que já haviam sido usados pelo próprio Amin.

Para sua surpresa, eles encontraram um grande apoio ao ditador, que fugiu para a Líbia em 1979 e morreu no exílio, na Arábia Saudita, em 2003. "Muitas das coisas que ele tentou fazer ficaram muito famosas", disse Macdonald, ressaltando até mesmo a expulsão dos empresários de origem asiática, que soou positivamente para os ugandeses porque pela primeira vez os nativos do país puderam ser donos de lojas e negócios.

Os asiáticos, que foram expulsos em 1972, eram a espinha dorsal da economia de Uganda antes da chegada de Amin ao poder. "Amin fez os ugandeses terem orgulho de ser africanos, terem orgulho de ser ugandeses. Ele tentou acabar com o complexo de inferioridade colonial", disse Macdonald.

Whitaker admitiu que o papel de Amin foi o mais difícil que ele já interpretou, pois precisou aprender novos dialetos, conversar com amigos e colegas de Amin para descobrir mais sobre ele e ouvir a gravações de seus discursos. "Eu sentia que tinha de ser um líder, mais forte e mais confiante. Não acho que seja sempre tão confiante assim, tenho minhas inseguranças", disse ele.

Amin serviu como soldado britânico, quando a Grã-Bretanha era a metrópole de Uganda, e foi campeão de boxe. No início, sua popularidade como líder era grande, mas logo ele se tornou imprevisível, dando a si mesmo o estranho apelido de "Rei da Escócia".

Whitaker disse estar entusiasmado com os rumores sobre o Oscar que já cercam o filme. "Estou muito empolgado com o fato de as pessoas acharem que o trabalho é forte o bastante para ser tratado assim", disse. "Tenho orgulho do filme ... Faço isso há mais de 20 anos, e seria ótimo ser reconhecido dessa forma", acrescentou.

Reuters
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