“Tenho sete mil DVDs. Esses são meu top 10”, diz Guillermo Del Toro

Guillermo Del Toro não parece ser desse mundo. Aliás, ele habita nosso planeta, mas sua mente passeia pelos universos mágicos de contos de fadas, histórias de terror, do além e do fantástico. O diretor mexicano define essa paixão em poucas palavras: “Tenho fetiche por monstros”. É daquelas pessoas que qualquer um adoraria conversar por horas, tamanha a gentileza e a lábia que nos carregam para dentro dessa mente que flutua por planetas nunca sonhados. “Minha prioridade é contar o que ainda não foi contado”, diz ele. E é mais uma dessas histórias, que chega ao Brasil nessa sexta-feita (9) com o título Círculo de Fogo (Pacific Rim).

O Terra foi convidado para assistir ao filme no México, onde o filho da terra, é 'rei'. Uma multidão se aglomerou para vê-lo de perto, pedir autógrafos e parabenizá-lo pela carreira e histórias fantásticas. Na estreia do filme no país, ele se desculpou por não assistir ao filme, pois preferia ficar na porta conversando e tirando fotos com os fãs. E na entrevista não foi diferente: atencioso e apaixonante.

Quando você pensa em fazer um filme, o que é importante levar em conta?
Eu sempre quero mostrar quem eu sou a partir dos filmes. Nunca penso o que vão achar, pois a vida é muito curta para vivermos na dependência do que os outros pensam. Me interessam as histórias que me fazem crescer como cineasta, como criador de imagens. A primeira coisa que penso antes de aceitar um projeto, é que vou ficar literalmente em cima dele por dois ou três anos e que isso será a minha vida por um tempo. Fazer um filme exige muito esforço, então tem que estar apaixonado pela história.

De onde veio a inspiração para essa história?
Eu sou um grande fã desses filmes de Kaiju (palavra japonesa para monstros, que literalmente significa um animal incomum, besta estranha). Durante toda a minha vida sempre adorei. Quando eu era criança a gente tinha uma grande influência da cultura japonesa, aqui no México. Cresci assistindo às séries japonesas, as mesmas que as crianças assistiam no Japão. E tudo isso me influenciou, pois eu assistia tudo aquilo e me sentia maravilhado.

Por que você escolheu um homem e uma mulher para serem os pilotos do robô?
Para mim, a coisa mais importante para mostrar nesse filme é que a única maneira de poder salvar o mundo é confiando um nos outros, e neste sentido, confiar no outro sem se importar com a cor, nacionalidade, crença ou o sexo. Por isso escolhi com tanto cuidado os atores. Normalmente esses filmes são sobre como um país salva o planeta, eu queria que o mundo salvasse o mundo e queria ter um casal que não vivesse apenas uma história de amor, mas sim de uma grande amizade.

Acha que só assim nós poderemos salvar o mundo?
Sim, sem esses rótulos seria mais fácil ter um mundo melhor. As pessoas ficam se dividindo por territórios, mas se você olhar para o mundo lá de cima, não há nenhuma linha de divisão dizendo que eu sou do México e você do Brasil.

É importante assistir ao filme Círculo de Fogo em um cinema 3D?
Levei mais de meio ano para converter toda a produção em três dimensões, pois esse foi o formato que escolhi e acredito que ele dá um grande senso de espaço, de imensidão. Geralmente a conversão leva de oito a 11 semanas, eu pedi para o estúdio 40 semanas para ter o controle de tudo. Tomei muito cuidado para que ficasse perfeito e cada cena envolvesse mais o espectador. Acho que não é o formato para qualquer filme, mas é para esse.

E por que essa dupla, monstros e robôs?
Eu sempre quis fazer filmes com robôs e monstros e quando veio a oportunidade para colocá-los juntos, foi uma loucura. Monstros são o máximo. Literalmente, eu fico feliz quando eu estou criando um monstro, fico feliz quando eu estou projetando um robô. Eles realmente fazem a minha alma ficar feliz. Acho que tenho um impulso até meio infantil dentro de mim. Robôs e monstros me fazem feliz.

O que leva em conta na hora de desenhar um monstro ou um robô?
Tentamos em primeiro lugar nunca se referir a outro personagem que conhecemos, tem que ser autêntico. Durante a pesquisa, visitamos submarinos, reatores nucleares, aviões, locais com máquinas diversas, barcos e daí vem a inspiração para alguns desenhos. Não faço referência de filmes nos filmes, gosto de ter referências da vida real. Esse filme, por exemplo, resolvi fazer, pois nunca tinha visto nada como ele.

Como você descreve seu próprio filme? O que as pessoas podem esperar ao ir ao cinema assisti-lo?
É um grande espetáculo e digo ainda que você nunca viu um filme tão grande, tão louco e engraçado.