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Terça, 12 de fevereiro de 2008, 12h15

Padilha: Brasileiros viram 'Tropa de Elite' por vingança

O diretor do filme Tropa de Elite, José Padilha, disse à Agência Efe que as mais de 11 milhões de pessoas que assistiram a uma cópia pirata do longa antes da estréia oficial nos cinemas fizeram isso "por vingança contra a Polícia".

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"Existe um grande ressentimento no Brasil em relação à Polícia, que extorque, tortura, aceita suborno e mata com impunidade", disse Padilha, cujo filme concorre ao Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim.

O cineasta se mostrou surpreso com o fenômeno que o filme se tornou no Brasil e brincou, dizendo que "se você quer que alguém fique com muita vontade de ver alguma coisa, basta proibi-la".

Outro motivo para o sucesso, segundo Padilha, poderia ser o fato de que até agora "nenhum longa-metragem tinha falado da guerra das favelas do lado de dentro da corporação".

Tropa de Elite ainda continua sendo alvo de um complexo processo judicial, denunciado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, corporação da qual, segundo o diretor, "dois terços ou 30 mil agentes são corruptos".

Segundo Padilha, a pior situação é a dos membros do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM, cuja corrupção é "muito mais grave, já que torturam e matam, mas não aceitam dinheiro dos traficantes".

Padilha se defendeu das pessoas que o acusam de justificar a brutalidade dos comandos especiais ao buscar a identificação do espectador com essas tropas e afirmou que sua corrupção "não é econômica, mas afeta os valores humanos mais elementares".

O diretor também explicou que a história, escrita em colaboração com o roteirista de Cidade de Deus, Bráulio Mantovani, é baseada em depoimentos de Rodrigo Pimentel, ex-oficial do Bope.

"Decidimos ambientar a trama na operação mais absurda na qual a Tropa de Elite interveio: a visita do papa João Paulo II ao Rio de Janeiro. Eles tiveram que matar traficantes para que Sua Santidade pudesse dormir uma noite na casa do arcebispo do Rio, perto de uma favela", disse.

Padilha destacou que a novidade do filme não está unicamente na retratação dos superpoliciais, cujos calcanhares são acompanhados pelas câmeras, mas sim na "demonstração de que não é uma guerra exclusiva" entre agentes e traficantes de drogas.

"Mostra também parte da culpa das classes média e alta, que consomem maconha e cocaína, financiando assim a guerra, mas que contam com dinheiro suficiente para subornar quem quer que seja para não serem presos", afirmou.

O diretor disse que acha "ridículo" que peçam a ele para justificar a inclusão de cenas de violência no filme - "mostramos a tortura como ela é" - e considera que a rapidez e a intensidade com que a ação é narrada faz o espectador "continuar pensando nisso".

Padilha, que já retratou a visão dos meninos de rua no documentário "Ônibus 174", disse que seu próximo projeto abordará o conflito das favelas da perspectiva do Governo, o qual seria o "gerador de toda a espiral de violência, que não tem caráter político".

EFE

AP
José Padinha leva 'Tropa de Elite' para o Festival de Berlim
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