Festival de Brasília 2006

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Sexta, 24 de novembro de 2006, 12h26  Atualizada às 15h13

"Querô" surpreende e pode mudar favoritismo em Brasília

Divulgação

Querô tem muitas chances de prêmio no festival
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Querô, de Carlos Cortez, levantou a platéia do Cine Brasília nesta noite de quinta-feira. O filme, segundo pauelista na competição oficial do festival de cinema, conta a história de Querô, um garoto abandonado que tenta afirmar sua identidade no meio da miséria e do crime, vivido pelo ótimo estreante Maxwel Nascimento, de 16 anos.

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O cinema, de 606 lugares, estava superlotado e com muita gente sentada nos corredores. A maioria se levantou para aplaudir e assobiar por dez minutos o filme, que mostra uma visão amarga da realidade dos jovens pobres no Brasil.

Uma realidade, aliás, que não é nova, uma vez que o enredo adapta o romance Querô - Uma Reportagem Maldita, escrito pelo paulista Plínio Marcos (1935-1999) na década de 70.

A boa acolhida mudou a expectativa inicial, que dava como possíveis favoritos a premiações os dois filmes que serão exibidos neste fim de semana. O Baixio das Bestas, de Cláudio Assis - premiado em Brasília, em 2002, com Amarelo Manga - e o aguardado Batismo de Sangue, do mineiro Helvécio Ratton, com Caio Blat e Daniel Oliveira no papel de frades dominicanos que apoiaram a luta armada nos anos 70.

Surpreendendo com sua qualidade, inclusive técnica, e sua contundência, Querô credenciou-se já como possível premiado aqui.

Querô, que na verdade se chama Jerônimo da Piedade, é órfão, filho de uma prostituta (Maria Luísa Mendonça) que se matou tomando querosene - o que vale o apelido ao filho. Ele é criado pela dona do prostíbulo (Ângela Leal), mas logo foge, por causa de maus-tratos. A partir daí, erra nas ruas, vai parar na Febem e luta desesperadamente contra a violência que teima em dominar o seu destino.

Humanidade
Com um ritmo frenético que o aproxima, temática e formalmente, de filmes como Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, e mesmo Pixote - A Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco, Querô transmite um naturalismo que remete a um documentário, mesmo não sendo, e revela um compromisso social que foi confirmado pelo diretor.

Ao apresentar seu trabalho, na noite de quinta-feira, Cortez declarou qual é sua ambição com ele: "Espero que o nosso filme lance um pouco mais de humanidade sobre a imagem da grande quantidade de meninos e meninas abandonados deste país".

Documentarista premiado por filmes como Seu Nenê de Vila Matilde e Geraldo Filme, Carlos Cortez pretendia fazer um documentário sobre Plínio Marcos. Este não o autorizou, mas em compensação deu-lhe carta branca para adaptar Querô, que se tornou também seu filme de estréia na ficção.

O diretor chamou então os roteiristas Bráulio Mantovani, de Cidade de Deus, e Luiz Bolognesi, de Bicho de Sete Cabeças.

Improvisações
À medida que desenvolveu a produção, Cortez foi deixando cada vez mais o roteiro de lado e confiando mais nas improvisações que surgiam no set de filmagens com seu elenco - formado por 40 adolescentes selecionados em escolas, casas, cortiços e ruas de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão (SP) e que foram treinados em oficinas de interpretação.

Além do elenco afinado, em que se destacam também os atores Aílton Graça (Contra Todos) e Milhem Cortaz (Carandiru), outro fator que sustenta o ritmo de Querô é a montagem ágil de Paulo Sacramento, que foi também o diretor do premiado documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro. Na trilha sonora, está André Abujamra.

Dois curtas completaram a exibição competitiva de quinta. O primeiro, o baiano Noite de Marionetes, de Haroldo Borges, trouxe de volta o ator Ravi Ramos Lacerda, o menino de Abril Despedaçado, de Walter Salles.

Agora adulto, ele interpreta um palhaço de circo decadente que tem um encontro romântico na praia com uma prostituta (Cristiane Ferreira).

O outro curta, Dia de Folga, de André Carvalheira (DF), por pouco não deixa de ser exibido no festival. Conforme contou o diretor, todo o material do filme foi perdido por um problema de câmera, tendo de ser inteiramente refilmado.

Por esse motivo, ele chamou ao palco do Cine Brasília toda a enorme equipe de produção, fazendo questão de agradecer pessoalmente um a um, por terem se disposto a refazer todo seu trabalho novamente. Estas longas apresentações e agradecimentos todas as noites, aliás, atrasam um bocado o início das sessões dos festivais em geral, este inclusive, mas também fazem parte do clima.

Reuters
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